Serra do Ibitiraquire

Na língua tupi significa Serra Verde. Localizada entre Antonina e Campina Grande do Sul, no Paraná. Esta região concentra dezenas de montanhas, as mais altas da região sul do Brasil, em um dos berços do montanhismo brasileiro.

O acampamento selvagem é necessário, no entanto a recompensa a cada pernoite é um nascer e pôr do sol espetacular. Em cada cume, a perspectiva que se tem é de uma visão singular das montanhas adjacentes.

As lindas paisagens da mata atlântica ao longo de cada jornada são reforçadas com um visual 360º da serra do mar e do litoral paranaense, com destaque ao anoitecer para o realce das luzes noturnas de Antonina e Paranaguá.

Simplesmente de perder o folego ao caminhar na crista das montanhas e vales profundos, em desníveis acentuados, terrenos de pedra, raízes e barro, trilhas abertas e outras mais fechadas, e trechos expostos com vias ferrata e cordas. 

O clima é outro fator determinante para o sucesso do empreendimento, devendo ser analisado previamente. É fundamental um bom planejamento e logística, sem falar do preparo físico, seja com mochila cargueira ou de ataque.

Apresentaremos em novos posts as trilhas até o cume dos picos Caratuva, Itapiroca e Paraná.

A Montanha Mais Alta – Sapucaí Mirim

“Quando se sobe a montanha mais alta da região e se vê tantas outras, percebe-se quão vasta e majestosa é a Serra da Mantiqueira ao redor. ”

Logo na estrada, ao amanhecer, já avistamos a belíssima formação rochosa do complexo do Baú, com vista das três pedras – Ana Chata, Baú e Bauzinho.

Desta vez nosso objetivo final foi a Pedra Bonita, também conhecida como Pedra do Campestre. É o ponto mais alto de toda região na divisa entre os municípios de Gonçalves e Sapucaí Mirim no extremo sul de Minas Gerais.

A partir dos dois mirantes até o cume, a 2.120 m de altitude, em dia de boa visibilidade e com alguma paciência, é possível avistar uma dezena de pedras, montanhas e serras…

Como as Pedras do Forno, da Balança, da Divisa, do Baú, e Pico São Domingos. 

Observando atentamente, logo atrás do Baú, a silhueta do maciço Marins-Itaguaré, e quase desapercebido a Serra Fina, com destaque para o pico da Pedra da Mina. 

Ainda na Mantiqueira, os Picos Agudo e Trabiju, e Serra dos Poncianos.

Por Gonçalves são 8 km de trilha, enquanto que por Sapucaí Mirim são 10 km.

Travessia Marins Itaguaré – Serra da Mantiqueira

A Travessia Marins Itaguaré é uma das clássicas caminhadas do montanhismo brasileiro. Este trekking percorre uma parte da Serra da Mantiqueira, entre São Paulo e Minas Gerais, tendo como pontos culminantes o Pico dos Marins (2.420 m), Pico Marinzinho (2.432 m), Pedra Redonda (2.304 m) e Pico do Itaguaré (2.308 m). Uma travessia de 20 km em 3 dias, considerando ataque aos picos do Marins e Itaguaré.

É uma travessia técnica, em terreno rochoso, muita subidas e descidas, com mochila cargueira, água extra devido à restrição de pontos de captação de água, acampamento selvagem, possibilidade de neblina dificultando a navegação. Trekking com trecho de trilhas pouco visíveis, escalaminhada, passagem de buraco e uso de corda. Estar fisicamente bem preparado e contratar guia ou agência especializada são essenciais.

Na linha de cume desta travessia, é fantástico a vista dos vales e picos.

Da estrada já avistamos o contorno da serra, com o Marins a esquerda e o Itaguaré do outro lado. Subindo pelo bairro dos Marins, vemos os detalhes das montanhas escarpadas.

No alto dos Marins, temos um cenário amplo da travessia, com visão do Marinzinho, Pedra Redonda, Itaguaré e Serra Fina / Pedra da Mina.

No Pico Marinzinho, olhando para trás, a esquerda vemos o Marins, e olhando a frente, a continuação da travessia, com a Pedra Redonda começando aparecer em destaque.

Na lomba da Pedra Redonda, antes de descer para o acampamento, o Itaguaré foi iluminado pelo entardecer enquanto que o Vale do Paraíba ficou as margens da sombra da Mantiqueira.

No Pico do Itaguaré, entre nuvens passageiras, aguardando o pôr do sol, vimos o que ficou para trás, o Marins a esquerda, no centro a Pedra Redonda e a direita o Marinzinho.

Depois aguardamos a chegada de mais um espetacular pôr do sol.

Uma aventura em perfeito respeito a montanha. Este desafio exige bom planejamento e logística. Sugiro estar com bom preparo físico, formar um grupo pequeno, com espírito de equipe e focado no objetivo de cada dia. Não recomendo esta travessia se for o primeiro trekking ou o primeiro contato com a montanha.

Caminho de Mambucaba

A Origem

Mambucaba, de origem indígena, tem alguns significados. O que mais gosto é aquele que diz que era uma ‘passagem’, um caminho utilizado pelos índios que habitavam o litoral para subir a serra do mar até o planalto no Vale do Paraíba.

A História

Os tamoios utilizavam este caminho, as margens do rio, para coletar alimento e subir até o planalto. A partir do século XVI ocorreu a ocupação da região pelos portugueses. Entre final do século XVIII e XIX, o caminho foi rota não oficial do ouro, e o principal caminho exportador do café e importador dos escravos para o Vale do Paraíba. A decadência começou com o transporte do café por ferrovia a partir de 1872, e depois com a abolição da escravidão em 1888. O Parque Nacional da Serra da Bocaina foi criado em 1971.

Os Caminhos

As trilhas do ouro são inúmeras, saindo de outras localidades no alto da Serra da Bocaina. A mais famosa é o Caminho de Mambucaba, em três dias de caminhada, dentro do Parque Nacional Serra da Bocaina, de São José do Barreiro – São Paulo, até a vila de Mambucaba (Perequê), litoral de Angra dos Reis – Rio de Janeiro.

As Águas

As águas são incontáveis, em todos lugares brotam regatos, córregos e rios que se ajuntam ao maior, o rio Mambucaba. Ao longo dessa jornada, as quedas d’água são inúmeras e algumas delas receberam o nome de Santo Isidro, dos Mochileiros, das Posses e do Veado.  

Os Pernoites

Na travessia do Caminho de Mambucaba, na Serra da Bocaina, os pernoites podem ser hospedagem ou camping, com banho quente e refeições, no Tião da Barreirinha ou Dona Palmira, e Zé do Zico ou acampamento selvagem próximo a cachoeira do Veado.

Bocaina, do tupi-guarani, significa ‘caminhos para o alto’, em virtude da grande variação de altitude, mais de 2.000 m, desde o litoral até a serra. Na ‘Entrada do Parque’ e no ‘Alto da Jararaca’ são os pontos mais altos durante a travessia, em torno de 1.500 m de altitude.

Trilha Molhada – Serra dos Poncianos

Ela brota nas rochas como um filete de água cristalina. Desce a mata, e logo encontra a primeira queda, uns três metros de altura, uma ducha perfeita. Conhecida como cachoeira Imponente.

Ao redor, a selva densa se projeta em grandes e altas árvores. Em uma delas, é possível atravessar por dentro do tronco. Com sorte, avista-se os muriquis se dependurando por entre as árvores.

Mas chegar na origem, na nascente, não é fácil. É preciso superar os desníveis, as pedras, as águas e o jângal. A vantagem é poder voltar, com todo cuidado, se refrescando em alguns poços.

Praticamente uma trilha molhada. O desnível é menor em alguns trechos, mas a descida é constante e cansativa. Quando chegamos na cachoeira das Couves (foto acima), ela se projeta quinze metros abaixo.

Logo alcançamos uma cascata (foto acima) que não sei se tem nome. Em seguida, voltamos na trilha pela margem esquerda do rio. A partir deste trecho, do lado direito, aflora um imenso maciço rochoso.

Ao chegar na ponte de madeira, atravessamos novamente para o outro lado. Agora o rochoso está a esquerda. Nesse trecho saímos da mata passando por uma propriedade particular, o qual recebemos autorização de acesso.

Este pequeno rio é o Santo Antônio, que incansavelmente continua descendo a serra, até passar próximo a sede da APA São Francisco Xavier, para depois se encontrar com o rio do Peixe.

É uma trilha molhada, bate-volta, de meio dia de caminhada até a cachoeira das Couves. Se for até a cachoeira Imponente e nascente, será necessário o dia todo.

Além do Horizonte – Farol da Juatinga

Numa tarde nublada de mar virado, chegamos na comunidade e farol Ponta da Juatinga. Montamos acampamento. Preparamos café da tarde, e depois o rancho, antes da chuva noturna.

Passamos uma noite sem ventania. Amanheceu ensolarado e praticamente sem nuvens.

Examinamos a costa escarpada na tentativa de observar algum trecho da travessia sentido Cairuçu – Laranjeiras. De volta ao farol, constatamos um oceano imenso, com o sol nascendo bem ali no horizonte.

Com acampamento desmontado, descemos na comunidade para esperar o resgate, o Rei Davi. Tivemos tempo para prosear com os meninos no cais e pescadores que estavam preparando a rede de pesca.

Uma bela manhã de domingo. Diferente do dia anterior, o mar estava novamente uma calmaria, parecia uma grande lagoa durante o trajeto até Parati Mirim.

P.S.: ver post 1 e post 2.

Além do Horizonte – Pico do Miranda

Vejo na mata fechada uma terra elevada. Assim, pela manhã seguimos a trilha em subida constante. Na vertente ascendente as árvores se agigantaram.

Após muita subida, alcançamos uma grande pedra. Na trilha a esquerda subimos uma rampa mais íngreme, chegando numa crista rochosa, o Pico do Miranda.

Observe que a praia Pouso da Cajaíba está escondida na reentrância. Subindo o rochoso mais a frente, a direita descortinamos a belíssima Enseada da Cajaíba.

Ao olhar para trás, aparentemente distante, bem ao fundo, quase não notado, a península da Ponta da Juatinga, nosso próximo destino.

Completando este giro panorâmico, do lado esquerdo avistamos a praia Martim de Sá, de onde partimos pela manhã.  

Após uma hora no pico, descemos sem parada até a praia, desmontamos acampamento e partimos para a comunidade e farol Ponta da Juatinga

P.S.: ver post 1 e continua no post 3.

Além do Horizonte – Martim de Sá

Vejo terras além do horizonte, mas é preciso se aventurar em mar aberto. Então, embarcamos no Rei Davi para chegar em terras distantes.

Entre nuvens e céu azul, o Saco do Mamanguá ficou para trás, e fomos além. Logo chegamos em águas tranquilas. Estava uma calmaria naquele canto da enseada.

Aportamos no Pouso da Cajaíba. Ao som de um blues mental, tomei café sem pressa. Ajustamos os equipamentos para então iniciar a subida do morro.

No meio do morro, um mirante. Paramos para contemplar aquela imensidão azul, envolto numa densa mata verde. 

Ao som de “The Thrill is Gone”, toquei na areia do outro lado. Admirei o mesmo mar, mas estava diferente. A emoção não se foi, haha, apenas sorri.

Novamente me senti em casa ao retornar no camping do Maneco.

Montamos abrigo e fomos explorar o riacho da Boca da Cachoeira que desagua no canto escondido da praia Martim de Sá.

P.S.: continua no post 2.

Trilha Praia Brava de Boiçucanga

Após percorrer pequenas trilhas entre Barequeçaba e Boiçucanga, terminamos o dia na Trilha Praia Brava de Boiçucanga. Era meio da tarde quando saímos da “Pousada Trilha da Brava Boiçucanga“, que está próximo ao início da trilha. Esta última caminhada totalizou 7 km em 2,5 horas. 

A vista no Mirante da Praia Brava de Boiçucanga reforça a ideia de paraíso perdido neste trecho da serra do mar. A recompensa está na beleza da mata atlântica até esta praia selvagem. Uma praia para surfistas, em razão das grandes e fortes ondas. Não é atoa que se chama praia brava.

A chegada na praia é ao lado de um riacho cristalino, que forma um pequeno e estreito espelho d’água, antes de seguir em direção ao mar. Naquele dia havia somente um cão e casal curtindo o final da tarde na praia.

Caminhando pela areia fofa da praia até o canto direito, seguimos a trilha na mata até a cachoeirinha. São apenas uma dezena de metros até lá. Nada demais, mas o curioso é que o regato d’água não desemboca até o mar, simplesmente desaparece na areia da praia. 

De volta a trilha, após subida até a bifurcação para a praia de Boiçucanga, observamos a encosta esverdeada e o caminho da tubulação da Petrobrás. Notamos também, ao fundo a “Montanhosa Ilhabela” com destaque para o “Pico de São Sebastião“, e abaixo, a sombra da encosta oposta, o caminho da tubulação da Petrobrás que desce a serra até Boiçucanga.

Em mais alguns passos se avista o “Mirante da Praia de Boiçucanga“. Naquele horário a praia refletia uma belíssima cor prateada, e para fechar o dia, em trecho plano após o ponto alto da trilha, o sol caprichosamente abrilhantou a mata numa coloração verde peculiar.

Esta trilha em mata atlântica é dentro do Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo São Sebastião, localizada entre as praias de Boiçucanga e Maresias, com nível de dificuldade médio devido a mata e praia selvagem com desníveis saindo a 125 m de altitude, atingindo 245 m e descendo até o nível do mar.

Terra Escondida

Me aventurei numa terra escondida, desconhecida, ainda sem nome. A primeira vez que a vi, examinei com atenção. Além de um rochoso, as pedras na encosta da montanha confirmaram os mirantes naturais.

A mesma terra escondida que quando criança imaginava uma grande parede, contínua, sombreada e distante. Logo depois fui aprender que era uma grande cadeia montanhosa, chamada de Mantiqueira.

Significa “serra que chora”, nome dado pelos indígenas, graças as nascentes que descem pelas encostas da serra organizando riachos e afluente rios, até formar o rio Paraíba do Sul no Vale do Paraíba.

Nesta parte de terra escondida da serra, não a vi chorar. Seus minadouros estão bem abaixo na vastidão da sua extensão. Pousei ao lado de um rochoso, enviesado para o sul de minas, abrigado da ventania que vem do vale.

Em terra escondida não se engane, mesmo os mais experientes desbravadores, são fustigados pelo jângal, que arrebata sua energia e pensamentos. Limpa sua mente de tal forma que até fica desorientado.