Acordei revitalizado após longa e extenuante caminhada. No topo da montanha, saí da barraca para apreciar aquele sol animado. Me espreguicei em cada músculo. Dei alguns passos. Ainda meio cambeta, fiz o corpo pegar no tranco.
Ar ativo
Pensei, pare de viajar tanto. Respirei fundo, lento e ritmado. Instantaneamente tudo ficou mais claro. Estava rindo como criança. Raciocínio, reflexo e memória refinados.
Ar renovado
A paisagem era de cinema, cintilante. Um grande sol sobre as nuvens, completamente acima das montanhas. Havia um calor aconchegante e ar fresco.
Ar manifesto
Os raios do sol matinal cortavam a minha pele. Me sustentei com vitamina D. Tudo parecia descomplicado. A mente estava arejada.
Ar da vida
Tentei não pensar em nada. Meu espirito saudou a natureza. De olhar fixo no horizonte veio o sentimento de gratidão. Estava contente por apenas respirar.
Ar puro
A liberdade justa é como respirar o ar puro. A depressão e irritabilidade perecem sem deixar rastros. Santo remédio esse ar puro.
Ao retornar da Pedra da Bacia, seguimos para o local do acampamento no alto da Serra da Bocaina. Ao entardecer o sol de inverno refletia uma luz especial nos campos ao redor.
Notamos um animal saindo da mata para o campo aberto, caminhando lentamente. Era o solitário lobo-guará.
Estava atento e curioso, olhando para todos os lados. Suas grandes orelhas se movimentavam captando sons que nós não podíamos ouvir.
Aparentava uns 20 kg de peso, cerca de 50 cm de comprimento e 90 cm de altura. Seu tamanho impressionava com aquelas pernas finas e longas.
Animal esguio. A pelagem era densa, o corpo parecia vermelho-alaranjado com crina e patas pretas. A parte inferior da mandíbula e ponta da cauda eram brancas.
Como ele come alimento de origem animal e vegetal, parecia forragear algum petisco no campo aberto.
Acho que veio conferir quem eram os invasores de seu território. Ele ficou perambulando e nos observando o tempo todo.
Ficou em silencio. Não fez nenhum tipo de latido e nem marcação de cheiro.
O lobo em geral tem sua fama de mal, carrega suas lendas e superstições em vários lugares que habita, mas esta espécie não é perigosa.
O lobo-guará não é um animal em risco de extinção, porém está vulnerável ou em perigo devido à redução de áreas de vegetação nativa.
No Brasil o lobo-guará é protegido da caça e aparece como animal símbolo na preservação do Cerrado.
O lobo camarada se afastou. Ficou sentado na sombra das árvores e depois sumiu dentro da mata.
Após um longo dia de caminhada, montamos acampamento ao entardecer. Era sabido que teríamos em destaque a lua cheia no céu daquele final de semana.
Ela chegou durante o preparo do rancho. Timidamente saiu detrás das árvores na crista da serra. Pura admiração pela sua grandeza inundando o céu noturno.
Como sempre, a mesma face iluminada. Desta vez plenamente iluminada. Deixou o acampamento e arredores bem claro, nem foi preciso usar lanterna.
A noite ficou estonteante. Momento de contemplação e pensativo…
Desde tempos imemoriais a lua cheia desperta paixões e inspiração ao Homo Sapiens. Foi deusa na antiguidade. Influencia o ciclo da natureza, na fertilidade dos seres vivos e no movimento e ritmo das marés. A lua cheia é união entre Yin e Yang. Sinônimo de abundancia. É natureza básica das emoções e sentimentos.
Após horas sob o luar, era como refletir luz própria. Estava pleno de energia. Era a existência humana em sintonia com a natureza e o universo.
No final da madrugada me levantei. Para meu espanto me chamou atenção um ponto expressivamente iluminado no céu noturno.
Estava bem alto, à Leste. Era Vênus o planeta mais brilhante no céu visível. Ele ficou por lá até antes do amanhecer.
Por toda noite a lua cheia correu o céu e foi cair do outro lado atrás das colinas. Vênus foi desaparecendo com o amanhecer.
Enfim, o Sol começou a despontar num facho de luz radiante. Era o princípio de um novo e brilhante amanhecer.