Acampar no Inverno

Acampar na montanha no inverno é uma experiência única e no mínimo especial. Requer uma dose de ousadia, vontade e equipamentos adequados para garantir sua segurança, sobrevivência e uma boa noite de sono.

O frio pode chegar ao extremo de temperaturas negativas. Essa dinâmica do clima está associada a fatores como latitude, altitude, relevo, vegetação, chuva, vento, entre outros. Além do nosso corpo também sentir a temperatura do ar de maneira aparente.

Chamamos isso de sensação térmica, sentimos que a temperatura está diferente da temperatura ambiente. Por exemplo, ao entrar num poço gelado, e ao sair, teremos a sensação que a temperatura do ambiente está mais agradável.

Nas montanhas brasileiras, no inverno, acima dos 2.000 m de altitude, é comum, no instante que o sol se pôr, em horas, a temperatura cair abruptamente em dezenas de graus célsius, e antes da meia noite facilmente chegar a 0ºC e negativo.

Então, a geada chega devagarinho, escondida na noite estrelada. É o orvalho congelado que, sob a forma de fina camada de gelo, recobre tudo que estiver ao relento. E assim, com certeza ao amanhecer o teto da barraca estará completamente congelado.

Ao caminhar na trilha, seguramente encontrará gelo acumulado no solo e sobre a vegetação. Facilmente conseguirá coletar placas de gelo as margens dos regatos, riachos e cachoeiras. Por horas esse gelo se conservará, mesmo em dias ensolarados do inverno.

Como disse, equipamentos adequados são essenciais para garantir sua sobrevivência. Por exemplo, o perigo da hipotermia é quando uma pessoa perde calor mais rápido do que pode mantê-la, em outras palavras, hipotermia é diminuição excessiva da temperatura corporal, abaixo dos 35°C.

Portanto, as roupas devem ser para temperaturas extremas, em camadas (1ª pele, 2ª pele), vestir um corta-vento, são fundamentais para manutenção da temperatura corporal. Para dormir, outros itens importantes são o isolante térmico e saco de dormir para baixas temperaturas.

Isso visto que o organismo humano, para realizar suas funções metabólicas, precisa apresentar temperatura entre 36°C e 37,5°C. Em temperaturas acima dos 37,5ºC ou abaixo dos 35ºC, irá causar problemas a saúde e requer atenção médica imediata.

Um Lugar Quase Isolado do Mundo

Entre muitas caminhadas, como dizem, neste “mundão sem porteira”, já encontrei alguns eremitas, pessoas morando em tocas, vales e matas, totalmente isolados do que chamamos civilização.

Em todos os casos, fomos recebidos numa presteza extrema, prontos para ouvir, numa troca de energia pura, onde fizeram questão de uma boa prosa. Serviram café, as vezes apenas bananas, e até ovo frito, beiju e brevidade.

Desta vez, no final da jornada foi necessário atravessar um morro, entre mata e pasto, de um lado para o outro, na Serra da Mantiqueira. Estávamos a quase duas dezenas de quilômetros distante de um pequeno lugarejo, que podemos chamar civilização.

Ao descer o morro do outro lado, avistamos uma casinha branca. Meus pensamentos ficaram à deriva. Seria habitada por um ermitão? Bem, naquele fim de mundo, tão longe para quem está a pé, só poderia morar um eremita.

Na descida, a trilha serpenteava as curvas de nível por onde o gado deveria passar, e as vezes, a casinha branca sumia de vista. Como a jornada estava no fim, o resgate deveria estar ali perto, no final de uma estradinha de terra.

Para nossa surpresa, a estradinha terminava na casinha branca. Naquele exato momento, não tínhamos visto, mas havia um idoso num fusca azul. Era o dono da casinha branca. Houve tempo apenas para saber que ele morava numa cidade grande.

Poderíamos chamá-lo de eremita urbano? Aquele indivíduo que vive na cidade e por vezes foge para seu cantinho no campo, gosta da vida em sociedade, de uma boa prosa, e ama a natureza. Com uma casinha branca e um fusca azul, acho que não.

Bela Vista

Os mirantes na Serra da Mantiqueira se espalham nas trilhas e travessias em montanha. Algumas vezes escondidos e outras escancarados para quem quiser ver.

Um mirante e um abismo, parceiros inseparáveis. Um enxerga as entranhas da terra, e o outro, vislumbra na linha do horizonte o perfil da serrania.

Nos mirantes acima das nuvens ficamos com a impressão de estarmos no olimpo dos deuses. Às vezes, parecem estar tão próximas que podemos tocá-las.

Em todo mirante podemos vivenciar este espetáculo singular da natureza, o nascer e/ou o pôr do sol.

No entanto, ao cair da noite é que percebemos a extensão de um pequeno povoado ou um grande centro urbano. As luzes artificiais irão ofuscar sua vista.

Uma Casinha no Campo

Eu tenho uma casinha no campo onde escrevo minhas estórias e muito mais.

“Onde impera a paz e o silêncio para eu poder perscrutar meus pensamentos. Onde a esperança transborda o riacho, mesmo na estiagem. Onde meu corpo e espírito subitamente se encontram nas noites de luar. Onde os animais silvestres me veem na mata e eu apenas suspeito que estejam lá. Onde eu possa cultivar as egrégoras de boas energias emocionais, físicas e mentais. Onde sempre tem flores no jardim, mesmo em dias pálidos. Onde a colheita fértil mostra que valeu a pena calejar as mãos. Onde o pau a pique e o sapé deu lugar a alvenaria e uma boa internet do Elon.”

Eu tenho uma casinha no campo do tamanho do meu sonho, nem mais nem menos.

Locomotiva 327

“Havia um pequeno vilarejo encravado nas montanhas. A vida seguia tranquila e pacífica, onde o tempo parecia ter parado, mas havia algo diferente. As pessoas contavam admiráveis estórias sobre uma locomotiva a vapor que cortava os vales e túneis, conectando comunidades distantes, com a força de vários cavalos-vapor.”

“Era uma locomotiva robusta e imponente. Uma verdadeira dama de vermelho e preto, com seus aparatos impecáveis, de personalidade soberana. Diante da sua força e velocidade, anunciava sua chegada a meia légua de distância, com um assobio estrondoso. Na estação, ao rugir dos trilhos, ficava envolvida numa cortina de vapor.”

Em meados do século XVIII ocorreu o aperfeiçoamento da máquina a vapor, graças aos esforços e genialidade de James Watt. Foi um marco revolucionário na história da humanidade, dando início a uma nova era de progresso tecnológico, onde as economias e as sociedades nunca mais foram as mesmas.

Essa invenção mudou para sempre a forma como o trabalho era realizado em várias indústrias, na produção em massa e no transporte terrestre e marítimo, com a mecanização de processos, que antes eram realizados manualmente, impulsionando a primeira Revolução Industrial.

Circuito Piracuama – Lefèvre

Antecipamos a saída para explorar este circuito que está aos pés da serra da Mantiqueira, em Pindamonhangaba.

Uma mistura de caminhada em estrada de terra, trilha e pela antiga e desativada EFCJ – Estrada de Ferro Campos do Jordão. E assim, deixamos a Estação Ferroviária Piracuama, em direção a serra, por uma estradinha, abeirando a ferrovia e o rio Piracuama.

Pela estrada passamos ao lado do Clube de Campo Piracuama, estacionamento do Pezão e Capril das Colinas; E escondido na mata ciliar, o Poço das Tartarugas e Cachoeira do Encontro.

A estradinha termina no Sítio Km 25 que é o entroncamento entre a estrada, ferrovia e trilha. Para fazer o circuito seguimos a esquerda pela ferrovia abandonada, contornando o Morro do Caracol, até avistarmos um ponto branco entre o verde da mata e a cerração.

Este ponto é o mirante Nossa Senhora Auxiliadora, com vista para o Vale do Paraíba, estrada Campos do Jordão SP-123 e viaduto ferroviário Eugênio Lefèvre. E assim, finalizamos na Estação Ferroviária Lefèvre, onde paramos para tomar café.

O caminho da volta é o mesmo até o viaduto ferroviário, e pelo lado esquerdo começa a trilha, um pequeno trecho do Caminho da Fé, que desce a serra de volta ao entroncamento. Para fechar o circuito, seguimos a esquerda na estrada de ferro.

Logo, avista-se uma construção em ruínas da EFCJ e o mini túnel. Seguindo pela ferrovia desmantelada, atravessamos umas duas pequenas pontes ferroviárias, passamos atrás do clube de campo e cruzamos a estrada de terra até finalizar na Estação Piracuama.

Uma caminhada em variados tipos de terreno, num sábado nublado, com ar gelado e chuvoso. Percorremos 16,5 km em 5,5 horas, num desnível total de 1.100 m.

Uma Nova Experiência – Ilhabela

Deslizamos montanha abaixo, rumo a uma jornada pelo litoral norte de São Paulo. Entre uma trilha e outra, surgiu uma oportunidade única: remar nas águas que banham esse trecho do litoral. Após planejamento, treinamento e avaliação das condições atmosféricas e marítimas, aceitei o convite de um amigo experiente em canoagem oceânica. Para mim, um novato nesse universo, esta seria uma experiência inaugural.

A manhã despertou bela, banhada por um sol radiante, vento brando e mar com ondas suaves. A partir do canal e da balsa de Ilhabela, saímos pela encosta direita da ilha de São Sebastião, seguindo próximo à margem rochosa, em direção à praia das Pedras Miúdas, próxima à Ilha das Cabras. Após contornar essa ilhota, remamos em direção à praia da Feiticeira, onde nossa aventura encontrou seu desfecho. Neste trajeto, margeamos a encosta de cinco pequenas praias encantadoras: Ilhote, Oscar, Tartaruga, Portinho e Sérgio.

A preparação prévia de treinamento na praia do Perequê revelou-se crucial. Até parecia que a remada espelhava o profissionalismo de canoístas experientes, pelo contrário, não era o meu caso. No final, o meu cansaço era aparente, mas energizado e com a sensação avassaladora de estar em sintonia com a natureza.

Do Itapeva ao Diamante

Bem cedinho, com o sol a pino, descemos o Pico do Itapeva para entrar na trilha. A ventania aumentava com o passar das horas, deixando o céu parcialmente nublado. À tarde, com nuvens escuras sobre o Pico do Diamante, iniciamos o retorno. Um percurso de 16 km em 6 horas de caminhada.

A trilha da Onça percorre a crista da Serra da Mantiqueira adentrando o alto do vale do rio Piracuama. Estes picos estão em Pindamonhangaba, próximo a divisa com Campos de Jordão. O acesso por Campos do Jordão, são por estradas até o início da trilha. Em Pindamonhangaba, o acesso é pelo Ribeirão Grande, trilha das Borboletas.

Ambos os picos estão envoltos por torres de transmissão VHF e UHF. A trilha é repleta de vistas panorâmicas da serra e do vale. Dizem que, a noite avista-se luzes de 15 cidades do Vale do Paraíba, as margens do rio Paraíba do Sul, em um desnível de aproximadamente 1.500 m de altitude.    

Ao longo da trilha, as subidas e descidas são tranquilas, exigindo mais fôlego apenas no começo da subida do Pico do Diamante. Atenção as várias bifurcações, começando no Parque Itapeva, depois na trilha da Borboleta, antes do riacho, na cachoeira do Índio e na subida para o Pico do Diamante.

Na trilha atravessamos trechos de bosques, florestas e campos de altitude; e cruzamos dois riachos. Além dos inúmeros mirantes, se tem acesso também, a cachoeira Pequena, e mais escondido na mata, a do Índio.

Uma caminhada para se observar a magnitude e as belezas naturais da Serra da Mantiqueira.

Campo Encantado

Há muito tempo, numa longínqua dimensão, onde a brisa dança sobre campos de cores sonoras, a Jozefinha, uma abelha jovem e solitária, embarcou em uma jornada inesperada. Era uma criatura pequena, ainda uma novata na arte de voar, mas com o coração repleto de coragem e curiosidade.

Como sempre, enquanto voava pelo firmamento, Jozefinha se viu desviando de seu caminho habitual. Uma leve brisa a conduziu por entre os raios dourados do sol, guiando-a para um mar de Girassóis. Maravilhada com a visão, mergulhou em espiral, dançando entre as altas hastes dos Girassóis.

O seu zumbido ecoava com destemor. Explorava cada recanto naquele campo encantado. À medida que voava, os Girassóis despertaram como que saindo de um sono profundo, virando-se suavemente em sua direção. Todos estavam encantados e curiosos com aquela bagunceira barulhenta.

A jovenzinha estava envolta numa aura mágica, sentiu-se acolhida e amada. Nunca antes se sentira especial e parte do mundo. Ela sabia, naquele momento, que sua jornada solitária não era em vão, mas sim uma viagem para descobrir a beleza que habita nos cantos mais inesperados do orbe.

E assim, Jozefinha continuou seu trajeto, levando consigo as memórias áureas daquele campo magnetizado, de Girassóis surpreendidos por uma criaturinha que inspirou admiração e encanto pela pureza e formosura.

Dança Sagrada

Em campo aberto, o sol se inclina em direção ao horizonte. Somos convidados a testemunhar a grandiosidade e a profundidade do quadro, onde o calor palpável e a quietude serena permeiam o ar. Testemunhamos um espetáculo sublime. O céu se incendeia em tons ardentes, pintando o firmamento com uma paleta de cores vibrantes.

Envolvido pela magia do momento, pela calidez do sol e tranquilidade do campo aberto, deixei me ser elevado aos últimos raios de luz. Abraçado em comunhão com aquele espetáculo da natureza, por um instante, presente, sem repressão das emoções, no entendimento copioso da combinação dos sentimentos de gratidão e paz.

É uma dança sagrada entre o céu e a terra, entre o afrontamento do sol e a brandura da lua iminente. Cada pôr do sol é uma lição gentil de que, assim como o dia acomoda-se para dar lugar à noite, os ciclos se renovam em constante evolução, muitas vezes não percebido, na lembrança da efemeridade da vida e da eternidade do espírito.