Uma Elevação em Perspectiva

Ao longo do vale do rio Paraíba do Sul, temos elevações naturais que se destacam das terras ao redor, descansando sob uma serra contínua e aparentemente suave, onde a vista consegue apenas distinguir uma silhueta uniforme em contraste com o azul.

É um ser vivo que abrasa, desgasta, sedimenta e se movimenta, ao longo de milhões e milhões de anos. Felizmente, estamos sobre terras contínuas, distante das zonas de convergência da crosta. Por isso mesmo, sem grandes elevações em altitude.

Em contrapartida, temos belezas naturais impares, ficando evidente quando caminhamos sobre elas. Nestas terras, não são as altitudes que nos deixam sem folego, e sim as condições climáticas e geográficas distintas que nos desafiam a cada jornada.

Logo, no cume do gigante, ao final da tarde, sua sombra escondeu Cruzeiro e parte da planície no vale. Quando desci o maciço o sol se arrumou do outro lado do horizonte e a face leste ficou ficou ao abrigo das sombras, com realce para outras cidades no vale.

Ao amanhecer, a montanha mostrou uma nova perspectiva. A face oeste estava mergulhada na escuridão, escondendo a magnitude da encosta íngreme e destaque para os cumes pontiagudos. Esta visão foi se modificando ao longo da caminhada.

Ao meio dia, a montanha se transformou em outra. Tom cinza, fendas escuras e vegetação esverdeada até as escarpas mais íngremes. Novamente o município de Cruzeiro aparece timidamente, distante, em linha reta, apenas quinze quilômetros do pico.

Na manhã seguinte, com o sol a pino, uma outra face se revelou, aparentemente arredondada e com visibilidade dos montanhistas notadamente minúsculos. Mais uma vez outra face se abriu, agora um imenso paredão rochoso.

O rochoso escarpado anunciou a grandeza do paredão. Uma enorme fenda ficou evidente. É o pulo do gato, uma pedra entalada entre a fenda e o abismo. Uma passagem necessária para em seguida fazer duas escalaminhadas e alcançar o cume.

Como a segurança deve estar em primeiro lugar, é recomendado usar uma corda de uns vinte metros, alguns mosquetões, fitas de escalada e cadeirinhas, para  ancorar em ambos os lado e atravessar com segurança.

Travessia Marins Itaguaré – Serra da Mantiqueira

A Travessia Marins Itaguaré é uma das clássicas caminhadas do montanhismo brasileiro. Este trekking percorre uma parte da Serra da Mantiqueira, entre São Paulo e Minas Gerais, tendo como pontos culminantes o Pico dos Marins (2.420 m), Pico Marinzinho (2.432 m), Pedra Redonda (2.304 m) e Pico do Itaguaré (2.308 m). Uma travessia de 20 km em 3 dias, considerando ataque aos picos do Marins e Itaguaré.

É uma travessia técnica, em terreno rochoso, muita subidas e descidas, com mochila cargueira, água extra devido à restrição de pontos de captação de água, acampamento selvagem, possibilidade de neblina dificultando a navegação. Trekking com trecho de trilhas pouco visíveis, escalaminhada, passagem de buraco e uso de corda. Estar fisicamente bem preparado e contratar guia ou agência especializada são essenciais.

Na linha de cume desta travessia, é fantástico a vista dos vales e picos.

Da estrada já avistamos o contorno da serra, com o Marins a esquerda e o Itaguaré do outro lado. Subindo pelo bairro dos Marins, vemos os detalhes das montanhas escarpadas.

No alto dos Marins, temos um cenário amplo da travessia, com visão do Marinzinho, Pedra Redonda, Itaguaré e Serra Fina / Pedra da Mina.

No Pico Marinzinho, olhando para trás, a esquerda vemos o Marins, e olhando a frente, a continuação da travessia, com a Pedra Redonda começando aparecer em destaque.

Na lomba da Pedra Redonda, antes de descer para o acampamento, o Itaguaré foi iluminado pelo entardecer enquanto que o Vale do Paraíba ficou as margens da sombra da Mantiqueira.

No Pico do Itaguaré, entre nuvens passageiras, aguardando o pôr do sol, vimos o que ficou para trás, o Marins a esquerda, no centro a Pedra Redonda e a direita o Marinzinho.

Depois aguardamos a chegada de mais um espetacular pôr do sol.

Uma aventura em perfeito respeito a montanha. Este desafio exige bom planejamento e logística. Sugiro estar com bom preparo físico, formar um grupo pequeno, com espírito de equipe e focado no objetivo de cada dia. Não recomendo esta travessia se for o primeiro trekking ou o primeiro contato com a montanha.

Nuvens Brincante – Serra Marins-Itaguaré

Quem nunca brincou de esconde-esconde…

Na montanha, quando chegam as nuvens, como crianças, brincam com os montanhistas. Logo, escondem as serras por um instante e os picos por dias sem fim.

Em determinadas estações do ano ou locais mostram que são tormentas chegando. Por hora, causam preocupação e não é hora de brincadeiras.

Mas o bom mesmo, é vê-las passando, se misturando e dissipando num movimento frenético. Como criança, as nuvens brincam, correm pelos ares e revelam a beleza das montanhas.

Monumento Natural Mantiqueira Paulista – Pico dos Marins e do Itaguaré

Caminhantes nas montanhas da Mantiqueira, com frequência, falam sobre a importância da criação de uma unidade de conservação na localidade entre o Pico dos Marins e Pico do Itaguaré.

Então, em junho de 2020, foi publicado no diário oficial a resolução SIMA-33 sobre os procedimentos para criação do Monumento Natural Mantiqueira Paulista, nos municípios de Cruzeiro e Piquete, São Paulo.

A estória é mais ou menos assim…

Tudo começou em 2015 quando a Secretaria do Meio Ambiente criou o Grupo de Trabalho Mantiqueira para desenvolver estudos e propostas de proteção, conservação, desenvolvimento sustentável, e dos aspectos ambientais e socioeconômicos, a partir da cota 800 m da Serra da Mantiqueira entre Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Piquete, Cruzeiro, Lavrinhas e Queluz.

No âmbito do Grupo de Trabalho Mantiqueira, as prefeituras de Cruzeiro e Piquete, solicitaram a criação respectivamente do Monumento Natural Pico do Itaguaré e Pico dos Marins. Em 2019, a Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente solicitou que a Fundação Florestal coordenasse um estudo para avaliar o pedido das prefeituras.

A proposta considerada mais adequada foi a criação da Unidade de Conservação de Proteção Integral, na categoria Monumento Natural – MONA, abrangendo a área de vegetação da Serra da Mantiqueira em Cruzeiro e Piquete.

Como o MONA tem objetivo preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica, o Monumento Natural Mantiqueira Paulista teve proposta final discutida em Audiência Pública com área final protegida de 10.371 hectares.

As principais justificativas para criação da MONA Mantiqueira Paulista são:

  • A Mata Atlântica é um “hotspot” mundial de biodiversidade dado as ameaças para conservação ambiental;
  • A Serra da Mantiqueira é um patrimônio natural de biodiversidade com centenas de espécies da fauna, flora e aspectos geológicos especiais;
  • O bem-estar humano é favorecido pelo fornecimento dos mananciais, regulação climática, proteção do solo e produção de alimentos no Vale do Paraíba;
  • O aspecto cultural é singular com o turismo, a paisagem e valores religiosos da região.

Portanto, com a deliberação das diretrizes de gestão da unidade, vamos aguardar a criação final da unidade e do plano de manejo para definir as regras de gestão do Monumento Natural Mantiqueira Paulista.

Fonte: Proposta de Criação do MONA Mantiqueira Paulista e Resolução SIMA-33

Oh, Augusta Montanha! – Pico dos Marins e Itaguaré

Oh augusta montanha que tanto me faz bem!

Meu alento se refaz nas suas vertentes.

Com amor no coração enfrento as dificuldades nas montanhas da vida.

O esforço e persistência seguem objetivos.

A força está no interior.

As desventuras são transformadas em superação e gratidão.

O sucesso e alegria são transitórios.

Os sinais estão à vista.

É preciso desconexão para estar-se conectado.

O talento e força de vontade são aliados.

A incerteza caminha ao lado.

Ser beligerante é ver com outros olhos.

Oh augusta montanha que tanto me faz bem!

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Boas Festas!

Kleber Luz

Nariz do Gigante – Pico do Itaguaré

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Dizem que o Pico do Itaguaré lembra um rosto humano e daí foi apelidado de “Gigante Adormecido” ou “Nariz do Gigante”.

Essa imagem pode ser vista de longe na rodovia Presidente Dutra onde a serra destaca o Pico dos Marins a esquerda e o Pico do Itaguaré no canto direito.

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O maciço do Itaguaré se desponta na Serra da Mantiqueira a 2.308 metros de altitude na divisa entre os municípios de Marmelópolis, Passa Quatro e Cruzeiro.

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Como as encostas são íngremes e escarpadas do lado do vale, o melhor caminho é subir a serra em direção a Passa Quatro e desviar por estrada de terra na zona rural de Cruzeiro.

O sábado amanheceu nublado e a previsão anunciava chuva no final da tarde. Foi preciso atenção com os horários para fazer o cume em um dia.

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Partimos de madrugada e pegamos um amigo em Cruzeiro que conhece muito bem a região de serra onde se localiza o Pico do Itaguaré.

Deixamos o carro numa clareira, à beira da estrada de Marmelópolis. A trilha atravessou riachos e seguiu mata adentro numa subida constante até atingir o primeiro maciço rochoso.

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Ao meio dia, o sol desapareceu entre nuvens. A ventania anunciava a necessidade de apressar os passos para evitar a tempestade que se aproximava.

A subida levou três horas e meia de trilha com “escalaminhada” no final. Lá de cima a visão é incrível! A leste temos a vista da Serra Fina e ao sul o município de Cruzeiro.

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A oeste se desponta o imponente Pico dos Marins e na crista outras elevações se destacam de oeste para leste, como o Pico do Marinzinho e Pedra Redonda.

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Até onde a vista alcança, pode-se ainda ver outras cidades como Cachoeira Paulista, Lorena, Guaratinguetá, Aparecida, Roseira e as montanhas de Marmelópolis e Passa Quatro.

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O retorno foi ligeiro, sem paradas. Assim conseguimos retornar com segurança ao ponto de partida. Evitamos uma provável tempestade magnética no cume.

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Bora para a próxima montanha!

Pico dos Marins – Piquete

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O Pico dos Marins está localizado na Serra da Mantiqueira, na divisa dos municípios de Piquete e Cruzeiro, no estado São Paulo. Sua altitude é de 2.420 metros acima do nível do mar.

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É um dos points do montanhismo e trekking no estado de São Paulo e no Brasil. Formado por um grande maciço rochoso com paredões e escarpas íngremes. Foi escalado pela primeira vez em 1911.

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Como parte desse maciço, na linha de cume, avista-se o Pico do Marinzinho, Pedra Redonda e Pico do Itaguaré. No maciço ao longe, avista-se a Serra Fina e a Pedra da Mina, seu ponto culminante.

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O trekking até o cume é considerado um dos mais bonitos do Brasil. Quanto ao grau de dificuldade pode-se dizer que é de médio a pesado com subida constante em terreno rochoso e “escalaminhadas” no trecho final.

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Evite subir com chuva e tempestades eletromagnéticas pois não existe abrigo para se proteger. A orientação fica limitada com a neblina que aparece com frequência.

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A temperatura chega facilmente abaixo de zero graus no inverno. Outro ponto de atenção são os fortes e constantes ventos. Procure ir com um guia experiente.

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Local: Piquete / SP

Pernoite no Marins – Piquete

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O amanhecer na serra de Piquete nos presenteou com os primeiros raios de sol e uma grande nebulosidade na subida das montanhas da Mantiqueira.

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Chegamos ao Morro do Careca, a 1.608 metros de altitude, ainda sem visibilidade dos maciços. O caminho já anunciava as íngremes encostas rochosas.

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Ao adentrar a trilha seguimos numa ascendente elevação. Passamos por uma sequência de três mirantes até atingir a cota 2.077 metros. Com ventos constantes as montanhas ao norte estavam à vista. 

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Iniciamos a subida do primeiro maciço. Como numa dança frenética as nuvens se dissipavam e acumulavam rapidamente. Após o segundo maciço atingimos o quarto mirante a 2.250 metros.

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O dia cada vez mais bonito tornara a dificuldade da subida menos penosa. Ao chegar à nascente do ribeirão Passa Quatro, a 2.300 metros, seguimos numa sequência de escalaminhada até atingir o cume.

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Ascendemos o Pico dos Marins a 2.421 metros de altitude. Faltando três horas para o crepúsculo tivemos todo o tempo do mundo para montar acampamento, preparar um saboroso café da tarde e registrar em muitas fotos aquele pôr do sol.

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Ao entardecer registramos uma visão insólita do lado do Vale do Paraíba. Sobre o mar de nuvens formou uma grande sombra do Marins e logo acima a lua cheia já despontava no céu.

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O vento gelado soprava suave e a temperatura mínima atingiu a marca de 2°C com uma sensação térmica menor. A meia-noite, os intrépidos saíram da barraca para apreciar a luz da lua que clareava fortemente o topo da montanha.

Durante a descida tivemos o privilégio de contemplar o aparente isolamento do Pico do Marinzinho, provocado pelo mar de nuvens, entre a Pedra Redonda, Pico do Itaguaré e mais ao fundo Serra Fina.

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Ao retornar, deixamos o local onde acampamos igual como o encontramos. O lixo que produzimos no acampamento foi trazido conosco para descarte em local apropriado.

Entre Vales e Picos – Caminhar é Preciso

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Numa travessia os dias são longos e as noites são um descanso profundo. A jornada exige atenção e celebração, seja pela beleza do caminho ou simplesmente pela missão cumprida.

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Em uma destas longas caminhadas, depois de uma noite gelada, amanheceu ensolarado e a ventania indicava boas condições climáticas. Logo no segundo dia, um amigo já demonstrava certa preocupação pela jornada que se iniciava. Então começamos a trilha e em alguns momentos, algumas palavras de incentivo eram pronunciadas ao vento, como sem sentido, despretensiosas e alegres.

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Alguns achavam estranho aquele comportamento, mas ao longo do dia isso fez toda diferença e chegamos ao destino planejado. Logo após o jantar, este amigo me procurou e comentou que achava que não conseguiria se não tivéssemos agido como cada um zelando pelo outro. Algo me dizia que ele conseguiria. Tinha preparo físico, mas faltava confiança e naquele momento a mente dele jogava contra.

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A confiança é a essência de um processo do autoconhecimento, é a semente que germina dentro de nós para alcançar aquilo que buscamos. Se dentro de nós não tivermos esta certeza, os resultados não serão atingidos e desistiremos diante do primeiro obstáculo. Entre vales e picos os obstáculos são gigantescos diante da mãe natureza. Se a pensamento solto dominar nossa essência, seremos escravos de uma existência sem significado.

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Respirar profundamente e sentir o batimento cardíaco. Estar vivo agora! Este instante e nada mais! Esta jornada por si só já é uma grande benção. Na ansiedade da vida moderna ficamos cegos e deixamos de nos sentir vivo. Na caminhada podemos observar se alegria e serenidade fazem parte da jornada. Se não, estamos nos distanciando da nossa essência espiritual. Quando estes sentimentos estiverem presentes em nosso dia a dia, a caminhada terá um significado maior onde o ego e a mente não terão poder sobre o nosso verdadeiro Ser.

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” Como a primavera, época primeira que antecede o verão, onde as borboletas e abelhas voam de flor em flor em busca do néctar das flores, que a busca pelo conhecimento de si seja como um néctar doce e rico de confiança. “

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Que venha a próxima travessia. Boa semana!