O Olhar Vivo da Terra

“Há árvores que observam. Entre cascas e veios, a natureza às vezes molda um olho — como se a floresta, em seu silêncio antigo, decidisse olhar de volta. A imagem captura um desses instantes — a presença viva de algo que nos observa.”

Dizem que toda floresta tem um coração vivo. Um olhar antigo, gravado em sua entranha, que observa o passar das eras sem jamais piscar. Às vezes, esse olhar aparece encravado em um tronco — a lembrança viva de que a Terra nos vê o tempo todo.

É real. Eles habitam um espaço-tempo alternativo. Formas luminosas dançam entre as árvores. Vozes sussurram na névoa que surge do nada. Seres que nascem do encontro entre os elementais da natureza.

Os antigos contavam que, ao entardecer, a floresta se move sutilmente, como se cada folha respirasse com consciência. E quem percebe o olho em alguma árvore, já foi tocado, mesmo sem saber, pelo espírito que habita tudo o que é vivo na mata.

Seria um guardião? Ou apenas a própria vida, olhando de volta, lembrando que há mundos inteiros vibrando sob nossas pegadas.

À Beira da Lagoa

O pai senta, chapéu inclinado.

A vara mergulha na água tranquila,

um gesto simples, que carrega paciência e cuidado.

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O filho observa, de pé,

olhos atentos ao reflexo do céu,

aprendendo sem palavras a escuta do mundo,

a quietude que ensina mais que qualquer fala.

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O cachorro, fiel e imóvel,

acompanha o instante como um guardião silencioso.

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O vento dobra folhas e pensamentos.

O sol se derrama sobre a lagoa.

Cada ondulação se torna memória,

como se o tempo pudesse se alongar

e caber nesse instante perfeito.

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Pai e filho, ligados pela calma,

pela atenção e pelo simples estar juntos,

descobrem que a paz não é ausência,

mas presença —

.

na luz que toca a água,

no silêncio que fala,

no instante que é só deles,

onde o mundo inteiro se dobra

em natureza e amor contido.

.

E por um breve momento,

o tempo descansa — à beira da lagoa.