As Pegadas ao Meu Lado

” As pegadas das pessoas que andaram juntas nunca se apagam. “

Provérbio Africano

” Não ande atrás de mim, talvez eu não possa liderar. Não ande na minha frente, talvez eu não queira segui-lo. Ande ao meu lado, para podermos caminhar juntos.”

Provérbio Ute

Enselvado – Saco do Mamanguá

Embrenhado na mata. Tudo a flor da pele. Em movimentos compassados, desviando do jângal cortante. Atento aos seres ocultos que rastejam no matagal escuro. Encoberto nas folhagens grossas, busco as frestas de luz. Vem do alto. Tudo verde, tons claro escuro. Natureza viva, esperança. Estimulo reconfortante, na caminhada calma. O verde acalma. Passo-a-passo, corpo e mente ativos, equilíbrio em terreno intocado. Na selva, gotejo. Assombrado em pesar meu estado finito. Seguindo em frente, rasgando a mata, entre espasmos musculares e ardume nos pés. Assolado pela dor. Afora energias boas para depurar os corpos. Sigo a luz na folhagem. Fecho os olhos, me transporto, leve em espírito. Capturo a energia do sol, me aqueço. Nas células da planta vejo espectros de luz, verde ás suas folhas. Como uma simbiose entre seres. Que movimento incrível, volito livremente nas copas mais altas, num revoar controlado. Indo além da mata escura. Driblo a densa folhagem, já me vejo bem acima, agora contemplando a imensidão em tons verdes. No absurdo da minha imaginação, extravagante, acordo descansado, e novamente enselvado.

Artistas da Pré-História Brasileira – Parque Nacional da Serra da Capivara

A mais de 10.000 anos atrás nossos ancestrais, caçadores-coletores, habitaram selvas verdes da mata atlântica na região do nordeste brasileiro.

Certamente a fauna era abundante, e assim tinham tempo livre para representar o cotidiano em pinturas rupestres, encontradas em centenas de sítios na Serra da Capivara, ao sul do estado do Piauí.

Nas paredes das tocas, os painéis das pinturas retratam a evidência que ali viviam muitos animais, além das cenas do cotidiano, como a caça, o sexo, o nascimento, a dança e os rituais.

Os seres antropomórficos aparecem em cores e feitio diferente. Em algumas figuras vale a imaginação para tentar entender o que é ou o significado da cena.

As imagens são uma amostra do registro feito nas caminhadas dentro do Parque Nacional da Serra da Capivara, nas tocas do Pajaú, do Barro, do Baixão da Vaca, das Eminhas e Veadinhos Azuis, do Deitado, da Gameleira, da Saída, do Paraguaio, do Caldeirão e Baixão das Andorinhas.

Esta é a primeira etapa de uma jornada na Serra da Capivara e Serra das Confusões. Em novos posts mostraremos muito mais das inscrições rupestres e também da mega fauna.

Praias da Serra do Guaruru – Guarujá

Descemos a serra rumo ao litoral de Bertioga. Estacionamos ao lado do canal e nos aparelhamos para pegar a balsa. Do outro lado, aportamos em terras do Guarujá. 

Não pudemos deixar de apreciar a serra do mar, a grande muralha, entre nuvens. 

Aos pés das suas vertentes inclinadas, admiráveis quedas-d’água brotam das encostas até os cursos d´agua encontrarem os mangues e o rio Itapanhaú.

No canal de Bertioga, próximo ao Forte São João e São Luiz, as águas se confrontam para organizar restingas e pequenas praias na porção leste de Guarujá.

Neste trecho adentramos nos caminhos da Serra do Guaruru.

A trilha da praia Branca começa ao lado do posto de pedágio da balsa. Este trecho é pavimentado para facilitar o acesso a comunidade caiçara da praia Branca.

De pés descalços na areia branca caminhamos em direção a ilhota, que na maré baixa se liga a praia e ao costão rochoso.

Embaixo de um chapéu de sol paramos para apreciar a vista.

Seguindo na trilha da praia Preta, em mata atlântica bem preservada, o caminho estava enlameado e escorregadio.

Entre subidas e descidas, o lamaceiro foi diversão e atenção.

No final da praia Preta as árvores refrescaram o nosso descanso.

No trecho final da trilha na mata, alcançamos a praia do Camburi. De imediato avistamos a ilha do Guará.

Na praia Preta a natureza selvagem domina o ambiente, mas nesta praia do Camburi havia algumas moradias embrenhadas na mata.

Estas trilhas têm ótimas paisagens, mas é preciso esgotar o dia até o entardecer para apreciar esta lindeza toda. 

Teia Cósmica – Carpe Diem

” Viver cada momento como sagrado, é reconhecer que todas as coisas são interligadas numa grande teia cósmica. O aprendizado é viver completamente agora mesmo: carpe diem. O aqui e agora é o ponto no qual o poder existe; é o único ponto do qual se pode fazer escolhas e mudar seu mundo. “

Swami Paatra Shankara

Sexta-feira numa Comunidade Caiçara – Saco do Mamanguá

Após aportar em águas tranquilas, a tarde trouxe vento terral e baixa-mar. 

Era tarde de sexta-feira na comunidade caiçara da praia do Cruzeiro. Simplesmente fiquei paralisado com os tons azulados da vista do Saco do Mamanguá. Entre nuvens, o sol encobria o que estava por vir, o pôr do sol.

O calor já não era escaldante. Então chegara o momento de caminhar na areia molhada da praia do Cruzeiro e acompanhar como verdadeiramente tranquilo é uma sexta-feira nestas bandas. Preguiçoso era meu caminhar naquele entardecer.

Assim chegou à tardinha o céu azul-alaranjado. As águas do mar recuaram, as marolas sumiram e a comunidade simplesmente curtia aquele pôr do sol. Os juvenis brincavam naquela aparente lagoa salgada. Algumas poucas crianças se lambuzavam na lama de areia, olhando como se eu fosse um ser de outro planeta. Alguns jovens e adultos ficaram à espreita para ver o anoitecer.

O império da natureza, como sempre, trouxe mais um magnifico pôr do sol.

Um menino brincava com seu cachorro sem perceber o espetáculo a tempo, enquanto que outro parecia anestesiado com aquelas cores, do azul-alaranjado, entre claro escuro, e o prateado se misturando nas águas e céu do Mamanguá.

Do outro lado, a lua no quarto crescente disputando atenção com o Pico do Pão de Açúcar. No relógio, nem dezenove horas ainda eram. Assim é uma sexta-feira na comunidade da praia do Cruzeiro.

A Grande Mãe – Saco do Mamanguá

A admirável mãe se debruçou…

Há séculos em ascensão aos céus, símbolo magno da vida, por vez sequiosa por águas turbulentas, se aproximou do abismo das margens úmidas.

O grandioso tronco se ramificou em galhos fortes na busca do sol vivo. Apesar da superioridade alcançada, se viu pendida sobre o rio Grande. Agora penetra as rochas e foge das corredeiras. Ela bebe das águas do conhecimento. Ainda perene, segue corpulenta.

Agora em tempos de tempestades tardias, da primavera derradeira, as águas turbulentas buscam novos caminhos para transpor a grande mãe. Os espíritos da floresta espreitam felizes nesta brincadeira das águas.

Então fui descansar em seus braços, debaixo do tronco maior, ao lado das corredeiras mansas. Apenas fluido, fluindo nas corredeiras, feliz. A grande mãe me acolheu em seus braços.

A grande mãe é pura regeneração. Sem medo, ainda se avolumando com ímpeto, galhos vertendo verticalmente, incontáveis folhas morrendo e renascendo a todo instante, cíclica, fértil. A grande árvore da fonte da vida.

De raízes imensas, embrenhadas nas profundezas escuras do subterrâneo da terra. Aquele tronco descomunal, vertido na superfície, os galhos buscam forças para alcançar novamente a luz do céu. Até quando a grande mãe vai resistir à tentação das águas descomunais que chegam na estação iminente?

Logo, do tronco ceifado e inerte da grande mãe, a vida regenera num minúsculo broto verde. A morte e vida se confundem. É o ciclo que se renova!