Cada Pedra uma História

Apesar de já ter explorado muitas trilhas pela Serra da Mantiqueira, essa jornada teve um sabor especial. O formato de “travessia e circuito” trouxe um desafio a mais – não apenas pela distância percorrida, mas pelo desnível em plena Mata Atlântica. Deixamos de lado a tranquilidade carnavalesca de São Francisco Xavier para nos perdermos na beleza do entardecer avermelhado que tingia as montanhas do Sul de Minas, e à noite, a lua nova, tímida, despontava sobre Monte Verde.

A natureza, como sempre, nos reservou surpresas. Após cruzarmos o Vale dos Duendes, devido ao som de galhos quebrando, fomos presenteados com a rara visão de um grupo de muriquis – serenos, balançando entre as copas das árvores. Mas o grande susto da expedição veio à noite, já acampados na mata próxima à Pedra da Lua. Um ruído constante, como de uma “garoa fina”, revelou-se algo inusitado – centenas de formigas cruzando nosso acampamento.

No dia seguinte, a trilha mostrou sua face mais impiedosa. A metade do percurso foi marcada por obstáculos naturais – árvores e bambus caídos cobrindo a trilha, exigindo fôlego e atenção redobrada. Ainda assim, a recompensa veio com o entardecer, quando alcançamos o Acampamento dos Mirantes. Como de costume, após o jantar, seguimos até o mirante da Pedra Bela Vista. Lá, mais uma vez, nos rendemos à vista noturna e estonteante do Vale do Paraíba.

Foi uma aventura repleta de descobertas – entre elas, a bela revelação da Pedra da Lua, do lado mineiro da serra. Dali, cada formação rochosa parecia contar uma história, compondo uma vista de beleza singular que ficará para sempre na memória.

O Maior Primata das Américas

” Passava do meio dia de sábado de Carnaval, já tínhamos atravessado o Vale dos Duendes, descendo a Serra dos Poncianos em direção a Monte Verde. Diferente do avistamento em dezembro, desta vez eles estavam descansando próximo a copa das árvores. Um grupo entre cinco a oito muriquis, sem um dominante aparente.”

10 Curiosidades sobre o Muriqui:

1. Do tupi, muri’ki significa “gente que bamboleia, que vai e vem”. Como tem hábito dócil é reconhecido como “povo manso da floresta”. Outros nomes: buriquim, buriqui, mariquinha, mariquina, muriquina e mono-carvoeiro.

2. Endêmico em regiões montanhosas da Mata Atlântica. Encontrado ao norte do Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e sul da Bahia.

3. Espécies do gênero Brachyteles arachnoides (Muriqui-do-Sul) e o Brachyteles hypoxanthus (Muriqui-do-Norte).

4. Maior primata das Américas e uma das espécies mais dóceis entre os primatas.

5. Um macho adulto chega a medir 1,50 m de corpo e cauda, e pesar até 15 kg. Tem a face preta, pelagem bege-marrom-amarelada. Vive, em média, 30 anos.

6. Gestação de 7 meses pode gerar até 2 filhotes, com intervalo entre 2 a 3 anos. Os filhotes permanecem nas costas das mães até 2 anos para o desmame.

7. Alimenta-se de frutos, folhas, flores e lianas.

8. Considerado um “restaurador da floresta”, pois, em apenas um dia, pode dispersar sementes de até 8 espécies de plantas.

9. Reconhecido pela UNESCO como “identificador de qualidade ambiental”, é símbolo da “Reserva da Biosfera da Mata Atlântica”.

10. O muriqui está em perigo devido à destruição do seu habitat natural e população decrescente. Está na Lista Vermelha da UICN – União Internacional para a Conservação da Natureza.