Em meio ao avanço digital que molda nossos dias, há lugares que parecem ter sido poupados pela pressa do tempo. A Enseada da Cajaíba e Ponta da Joatinga, no litoral sul do Rio de Janeiro, é um deles. Ali, a vida ainda acontece com os pés descalços na areia, os olhos atentos ao mar e as mãos ocupadas com o que é real. É um mundo sem notificações, onde a infância corre solta entre ondas calmas e partidas de futebol improvisadas. Um cotidiano simples, mas cheio de presença – onde o analógico não é nostalgia, é vida.

Entre uma encosta e outra, deixei-me perder, no melhor dos sentidos, entre praias que apareciam e desapareciam a cada passo. O sol, alto no céu azul profundo, tingia de laranja a areia ainda molhada, enquanto ondas mansas deslizavam suavemente pelas curvas daquela enseada salpicada de embarcações de pesca.
Nas margens, pequenas comunidades se revelavam – casas caiçaras simples, algumas de veraneio, outras abrigando pequenos comércios locais. Mas o que mais chamou a atenção foram as crianças – em bandos, correndo para jogar uma pelada na praia ou se atirando nas ondas tranquilas. No píer de madeira, brincavam na beirada como se o risco não existisse, mergulhando no mar abrigado e voltando à superfície para mais um salto, mais uma gargalhada.
Era impressionante ver crianças de cinco, seis anos nadando com maestria e alegria, nenhuma com um celular nas mãos. Apenas vozes, gritos e risadas enchendo o ar – entre um “tibum” e outro – criando uma atmosfera leve, viva, cheia de liberdade.
E os adultos? Alguns ocupados com redes e barcos, preparando-se para o trabalho no mar. As mães, de dentro das casas, observavam tudo com um olho na panela e o outro na janela – aquele cuidado silencioso e atento.

Era esse o cotidiano na Enseada da Cajaíba e Ponta da Joatinga – uma vida simples, vibrante e simplesmente humana.




