Belvedere do Serrano

Após trilhas e passos, cansados e plenos,

Pelas pedras que guardam segredos terrenos,

Cruzamos a serra ao entardecer,

Entre Minas e São Paulo, a estrada a descer.

E eis que surge, em madeira erguido,

O Belvedere, um sonho esculpido,

Um deck altivo, em brisa envolto,

Que abraça a vista num olhar solto.

O vale se estende em tons de esplendor,

Serrano emoldura o quadro em cor,

E lá no fundo, sereno e pequenino,

São Bento repousa, quase divino.

As sombras vestem as montanhas em véu,

A Balança e a Divisa tocam o céu,

Enquanto, iluminado, imenso a brilhar,

O Baú, Bauzinho e Ana Chata se põem a dançar.

Belvedere, poesia esculpida em olhar,

Janela do mundo a nos encantar,

Onde a alma repousa, onde o tempo é brisa,

E a vista, infinita, jamais se desfaz.

Botas Desgastadas

Sob o brilho prateado da lua, uma velha coruja pousa em um tronco retorcido, suas penas parecem tecer a própria noite. Aos seus pés, repousa um par de botas desgastadas, com a vegetação da mata habitando o couro surrado.

“Já fui como você,” disse a coruja, com olhos como espelho das estrelas. “Essas botas carregaram sonhos e dúvidas, passos errados e caminhos iluminados. Aprendi que não é a voo percorrido que importa, mas o que você aprende enquanto voa.”

A coruja bateu as asas suavemente, como um abraço no vento. “Mudanças chegam como o amanhecer: inevitáveis e sempre novas. Cabe a você acolhê-las com a sabedoria de quem observa, ou resistir, como uma árvore lutando contra a tempestade.”

Então o vento soprou, levantando folhas secas e histórias adormecidas. A coruja inclinou a cabeça e, com um último olhar, alçou voo, deixando as velhas botas como um lembrete: a jornada nunca termina, apenas muda de plano.

O Canto da Floresta

Era manhã de primavera e a floresta despertara lentamente sob uma névoa suave, úmida, impregnada de aromas florais e terrais, sobre os primeiros raios de sol, um espetáculo de luz e sombra. Era uma sensação estranha, a floresta estava mais íntima. Fechei os olhos e respirei profundamente. Senti a névoa dançar ao redor, sob um manto de encanto e mistério. Um lembrete de que a vida fervilhava em cada canto.

Algo diferente pairava no ar. Pela secura do tempo, o caminho estava coberto de folhas e raízes. Da terra brotava uma energia preguiçosa. As serpentes deslizavam silenciosamente sobre as folhas secas, enquanto que os roedores espreitavam astutamente sobre os arbustos. As flores começaram a desabrochar, ainda acanhadas dentro da selva escura, e ao apurar o olhar, os insetos dançavam sobre as folhas.

Uma verdadeira sinfonia agitava a floresta, os pássaros pareciam compartilhar alegrias e segredos. Estavam todos por ali, apesar que mal conseguia avistá-los. Desta vez não haviam pássaros coloridos exibindo suas plumagens. O canto era consistente, obstinado e requintado. Era como se cada canto fosse uma celebração a vida. Naquele dia a floresta amplificou todos sons e nos presenteou com a magia da primavera.

O Limiar entre Dois Mundos

No momento em que o sol se despede no horizonte e a noite começa a desdobrar seu véu de estrelas, estamos no limiar entre dois mundos. O céu é dominado por tons quentes que desbotam o azul no firmamento. Entre a luz fugaz e a escuridão iminente, sentimos um frio penetrante.

Neste instante, as formas rochosas se erguem como sentinelas silenciosas, enquanto a terra e o céu parecem arder em chamas, em nuances quase dolorosas à vista. A terra parece integrada ao infinito, como parte de algo maior, à medida que o crepúsculo avança. As sombras se dissipam, cedendo lugar à escuridão que dança com os astros e ao brilho das cidades.

Novas formas rochosas emergem como guardiãs, lançando um manto de mistério sobre a paisagem. A imaginação vagueia livremente até que o sono chegue, trazendo sonhos esquecidos que se dissolvem ao amanhecer. Na aurora gélida, antes dos primeiros raios de sol, o termômetro indica temperaturas abaixo de zero. Tudo ao redor parece congelado, inclusive minha mente. Por sorte, logo o sol traz consigo luz e calor.

O céu se transforma gradualmente em um novo espetáculo. Agora banhado pela radiante luz do dia. Neste novo momento o dia começa a desdobrar seu manto de esperança. Estamos em um novo limiar entre dois mundos.

Uma Casinha no Campo

Eu tenho uma casinha no campo onde escrevo minhas estórias e muito mais.

“Onde impera a paz e o silêncio para eu poder perscrutar meus pensamentos. Onde a esperança transborda o riacho, mesmo na estiagem. Onde meu corpo e espírito subitamente se encontram nas noites de luar. Onde os animais silvestres me veem na mata e eu apenas suspeito que estejam lá. Onde eu possa cultivar as egrégoras de boas energias emocionais, físicas e mentais. Onde sempre tem flores no jardim, mesmo em dias pálidos. Onde a colheita fértil mostra que valeu a pena calejar as mãos. Onde o pau a pique e o sapé deu lugar a alvenaria e uma boa internet do Elon.”

Eu tenho uma casinha no campo do tamanho do meu sonho, nem mais nem menos.

Campo Encantado

Há muito tempo, numa longínqua dimensão, onde a brisa dança sobre campos de cores sonoras, a Jozefinha, uma abelha jovem e solitária, embarcou em uma jornada inesperada. Era uma criatura pequena, ainda uma novata na arte de voar, mas com o coração repleto de coragem e curiosidade.

Como sempre, enquanto voava pelo firmamento, Jozefinha se viu desviando de seu caminho habitual. Uma leve brisa a conduziu por entre os raios dourados do sol, guiando-a para um mar de Girassóis. Maravilhada com a visão, mergulhou em espiral, dançando entre as altas hastes dos Girassóis.

O seu zumbido ecoava com destemor. Explorava cada recanto naquele campo encantado. À medida que voava, os Girassóis despertaram como que saindo de um sono profundo, virando-se suavemente em sua direção. Todos estavam encantados e curiosos com aquela bagunceira barulhenta.

A jovenzinha estava envolta numa aura mágica, sentiu-se acolhida e amada. Nunca antes se sentira especial e parte do mundo. Ela sabia, naquele momento, que sua jornada solitária não era em vão, mas sim uma viagem para descobrir a beleza que habita nos cantos mais inesperados do orbe.

E assim, Jozefinha continuou seu trajeto, levando consigo as memórias áureas daquele campo magnetizado, de Girassóis surpreendidos por uma criaturinha que inspirou admiração e encanto pela pureza e formosura.

Uma Tarde de Domingo

Numa tarde de domingo, enquanto observava um vasto campo de girassóis, os raios do sol lutavam para romper as nuvens escuras que pairavam no horizonte. O contraste entre a vibrante amarelo dos girassóis e o céu tempestuoso pintava um cenário de beleza e mistério.

À medida que a tarde avançava, uma sensação de serenidade envolvia a paisagem. O vento suave acariciava as pétalas douradas dos girassóis, e os campos ondulantes pareciam sussurrar segredos antigos. Era como se a própria natureza estivesse sussurrando verdades profundas à alma inquieta.

Enquanto o sol começava a descer lentamente, banhando o campo em tons alaranjado, um sentimento de conexão com algo maior preenchia o coração dos observadores. Era como se a beleza efêmera daquele momento contivesse um vislumbre da eternidade, uma lembrança suave da presença de algo divino e intocado.

Os girassóis pareciam estar numa busca espiritual, uma aspiração constante em direção à luz e à verdade. E diante das nuvens que se esvaeciam, a esperança resplandecia, lembrando-nos de que mesmo nos momentos mais sombrios, a luz sempre encontra uma maneira de se infiltrar e iluminar nosso caminho.

Neste cenário de contemplação e beleza, a tarde se despediu lentamente, deixando para trás um sentimento de gratidão e reverência pela vida e pelo universo que nos rodeia. Era como se, por um breve instante, tivéssemos tocado a essência da existência, lembrando-nos de nossa conexão intrínseca com a Inteligência Suprema.

Folha Caída

No desabrochar da primavera, todas as folhas revelam uma só tonalidade, mas ao longo da passagem, no intricado caminho da vida, a senda se desvanece entre folhas amarelas e secas do tempo.

Cada passo deixa sua marca, e as lembranças se entrelaçam como folhas que caem suavemente, narrando a história de uma jornada vivida com ardor e profundidade, em meio a uma dança sutil entre a luz e a sombra.

Ancorada nos valores da sua essência, as folhas caídas na água, dançam em harmonia, se dissolvem e buscam uma nova transformação, neste contínuo ciclo da vida.

Sabedoria do Coração

” Quando comecei a amar-me.

Reconheci, que meus pensamentos podem me fazer infeliz e doente.

Quando eu precisei da minha força interior, minha mente encontrou um importante parceiro.

Hoje eu chamo esta conexão de Sabedoria do Coração. “

Charlie Chaplin