O Canto da Floresta

Era manhã de primavera e a floresta despertara lentamente sob uma névoa suave, úmida, impregnada de aromas florais e terrais, sobre os primeiros raios de sol, um espetáculo de luz e sombra. Era uma sensação estranha, a floresta estava mais íntima. Fechei os olhos e respirei profundamente. Senti a névoa dançar ao redor, sob um manto de encanto e mistério. Um lembrete de que a vida fervilhava em cada canto.

Algo diferente pairava no ar. Pela secura do tempo, o caminho estava coberto de folhas e raízes. Da terra brotava uma energia preguiçosa. As serpentes deslizavam silenciosamente sobre as folhas secas, enquanto que os roedores espreitavam astutamente sobre os arbustos. As flores começaram a desabrochar, ainda acanhadas dentro da selva escura, e ao apurar o olhar, os insetos dançavam sobre as folhas.

Uma verdadeira sinfonia agitava a floresta, os pássaros pareciam compartilhar alegrias e segredos. Estavam todos por ali, apesar que mal conseguia avistá-los. Desta vez não haviam pássaros coloridos exibindo suas plumagens. O canto era consistente, obstinado e requintado. Era como se cada canto fosse uma celebração a vida. Naquele dia a floresta amplificou todos sons e nos presenteou com a magia da primavera.

João-velho

É tido como um dos mais belos pica-paus do Brasil. Destaca-se pelo vistoso topete amarelo que dá origem à maior parte dos nomes populares, como cabeça-de-velho, joão-velho, pica-pau-velho, pica-pau-de-cabeça-amarela, pica-pau-cabeça-de-fogo, pica-pau-loiro e ipecuati (tupi).

Nome científico: Celeus flavescens.

Suas asas são pretas e barradas de branco com as partes inferiores pretas. O macho apresenta uma faixa vermelha nas laterais da cabeça, próximo a base do bico. Possui língua longa, preenchida de pontas em forma de escova, apropriada para extrair suco das frutas e o néctar das flores.

Alimenta-se de frutas, insetos, larvas, formigas e cupins. Na região sudeste, em Mata Atlântica, foi confirmado aves tomando o néctar das flores de duas espécies de plantas (Bombacaceae e Marcgraviaceae) do dossel da floresta.

Os pica-paus são polinizadores, pois ao visitarem várias flores das plantas, encostam a cabeça e o pescoço nas anteras e estigmas das flores. São aves benéficas na conservação da natureza, visto que se alimentam de cupins, formigas e outros insetos nocivos à madeira.

Estas aves estão sob ameaça por causa da alteração do seu habitat natural, desmatamentos e queimadas. A espécie depende de arvores altas e ocas para abrigo e construção de seus ninhos. Estão na lista de animais ameaçados de extinção do Ministério do Meio Ambiente.

Balé nos Ares

Era começo da primavera em um dia de céu limpo. O vento frio varria as ondas do mar e o sol matinal deixara a areia da praia numa quentura agradável. Paramos de caminhar e ficamos na espreita para observar as aves. Não era possível ouvir o canto graças ao escarcéu que fazia a ventania e o mar.

Era como um balé, as aves dançando contra o vento. Elas se revezavam a cada nova decolagem e aterrisagem, chegavam de mansinho, em câmera lenta.

Nas alturas, muito acima pairava uma ave de rapina, toda soberana. Examinava as possíveis presas e numa ascendente fez meia volta em direção a mata.

Adentro da praia havia um lagamar e outros pássaros. Todos olhavam na mesma direção como que vendo algo que eu não conseguia perceber.

“A sensação era que o tempo tinha parado… Ah se fosse um deles, faria festa a cada voo, a cada nova perspectiva e cantaria em todos os cantos. Eh, então de volta à terra…”

Percebi que estava sendo observado. Ele estava com olhar fixo em mim, parecia que estava lendo a minha mente.

P.S.: pássaros observados: Talha-mar, Carcará, Garça-branca, Savacu-de-coroa, Gaivota-de-asa-escura e Martim-pescador.

Turbine seus Sentidos

” Na natureza, somos mais vistos pelos bichos do que na realidade conseguimos vê-los.”

Os seres humanos dispõem de cinco sentidos (audição, olfato, paladar, tato, visão) e um sexto sentido chamado intuição. Quanto aos animais, nem todos têm igualmente apurado e desenvolvido estes sentidos, estando adaptados às necessidades que enfrentam no meio onde vivem. Por outro lado, alguns desenvolveram super sentidos.

Por exemplo, ao menor barulho na mata, um bando de Saguis-de-tufo-preto veio nos ver. Chegaram rápido saltando de galho em galho e pelos troncos. Mataram a curiosidade e foram embora. A boa surpresa foi avistar um adulto com seu filhote nas costas.

Neste caso, a corujinha-buraqueira chamou atenção pelos grandes olhos amarelos, prontos para enxergar em condições de baixa luminosidade e cem vezes mais que o ser humano. Além de uma ótima audição para localizar a presa apenas com este sentido.

” Pior que não avistar uma onça camuflada na mata, é não perceber a presença de uma serpente antes dela sentir a sua.”

Nesta situação, ela estava bem camuflada no caminho. A vimos ao mesmo tempo que ouvimos o som do seu chocalho. Era uma cascavel que agitou sua cauda com guizo, que é um aviso sonoro aos predadores, advertindo que estava pronta para se defender ou atacar.

Portanto, não importa em qual meio ambiente você esteja, turbine seus sentidos na potência máxima, porque os macaquinhos peraltas, as corujas bisbilhoteiras e as cobras peçonhentas estão soltas por aí.

Tucanaçu

Esse é o nome que mais gosto. Também popularmente conhecido como tucanuçu, tucano-grande, tucano-toco ou Ramphastos toco. É uma das mais de 40 espécies da família.

É o maior dos tucanos, com pouco mais de 0,5 m de comprimento e pesando mais de 0,5 kg. Uma belo pássaro. Plumagem negra do dorso ao ventre, cor avermelhada embaixo da cauda e de papo branco. Na ponta da maxila e bico possui uma mancha negra. Ao redor dos olhos possui uma pele amarela, sem plumas, e pálpebras azuladas.

O mais notável é o grande bico alaranjado, serrilhado para frente, de tecido ósseo esponjoso, formando uma estrutura airada, resistente, leve e termo reguladora para dissipação do calor. Curioso também como dormem. Os tucanos podem virar e elevar a cauda para a frente até tocar e esconder a cabeça para trás, camuflando o bico colorido.

É o único tucano que pode ser encontrado tanto em campo aberto (Cerrado), área urbana, como em floresta tropical úmida (Amazônia). Este foi avistado nas montanhas do Parque Estadual do Ibitipoca em Minas Gerais. Inclusive fósseis do Ramphastos toco no Pleistoceno, a 20.000 anos atrás, foram encontrados no município mineiro de Lagoa Santa.

Os tucanos são monogâmicos. O casal incuba os ovos e alimentam os filhotes. Se alimenta principalmente de frutos, insetos, pequenos lagartos e ovos. Não se surpreenda vê-los comento filhotes de outras aves. Por outro lado, seus predadores são aves de rapina, serpentes e macacos. Quando atacados, fazem muito barulho porque vivem em bando.

Como outras aves, o tucano também representa a liberdade, ou em sonho, um espírito aventureiro. Como arquétipo, ao interagir com ele, trará clareza e novas realizações.

Caburé

” A corujinha chamou atenção pelos grandes olhos amarelos e brilhantes.”

Nome científico Athene cunicularia, em alusão a Atena, deusa grega da sabedoria, e do latim cunicularius, que significa túnel. Popularmente conhecida como corujinha-buraqueira, entre tantos outros nomes.

” Uma ave de rapina, perfeitamente adaptada para a caça.”

Equipada com um voo suave e silencioso. Tem olhos grandes para enxergar em condições de baixa luminosidade e cem vezes mais que o ser humano. A visão é binocular, ou seja, enxerga com os dois olhos em profundidade. Consegue girar o pescoço em 270º para aumentar o campo visual. E tem uma ótima audição para localizar a presa apenas com este sentido.

É uma corujinha um tanto tolerante a presença humana. Em sinal de perigo, emite um som alto, forte e estridente. É a única coruja que tem o habito de ficar sobre uma perna.

” Toda coruja é símbolo de sabedoria, espiritualidade e consciência. É ícone da filosofia, ciências ocultas e conhecimento universal.”

Uma Caçadora Nata

Tem destreza no caminhar. No olhar, tem a precisão da caça ligeira. Uma caçadora nata.

De bico longo, reto e pontudo. Aparenta imponência no compasso dos passos. Se destaca na várzea alagada. Essa é de cor alva. Entra na lama e não se suja.

Uma bela ave. Finalmente abocanha um peixinho e sai em revoada com a cabeça retraída junto ao corpo.

Na tradição japonesa a garça simboliza sabedoria e juventude eterna, e quem fizer mil origamis, caminhará na direção da longevidade.

Os Filhos são como as Águias

” Os filhos são como as águias, ensinarás a voar, mas não voarão o teu voo. Ensinarás a sonhar, mas não sonharão os teus sonhos. Ensinarás a viver, mas não viverão a tua vida. Mas, em cada voo, em cada sonho e em cada vida permanecerá para sempre a marca dos ensinamentos recebidos. “

Madre Teresa de Calcutá

Pássaro da Imaginação – Saco do Mamanguá

Próximo ao cais de Parati Mirim, iniciamos a trilha atravessando o morro para caminhar na margem direita do Saco do Mamanguá. Fizemos curtas paradas nas praias das Pacas, Grande do Saco do Mamanguá, Bica, Pontal, até chegar na praia da Curupira, após quatro horas de caminhada.

Além da beleza singular da praia da Curupira, nos chamou atenção a escolinha, com belas pinturas nas paredes e no chão, de animais e pássaros da mata, colocando o aprendizado no visual do dia a dia das crianças. Havia também placas com frases valorizando a natureza, a família e o caiçara; E suas coisas como a “canoa caiçara”.

Uma pena não poder conversar com a professora e alunos, pois a escolinha estava fechada devido as férias escolares.

Muita criatividade e cores nos desenhos. Até desenharam e pintaram um pássaro da imaginação.