Pedra do Sino de Itatiaia

Ao descer o vale do Aiuruoca, à primeira vista temos a formação rochosa Ovos da Galinha e ao lado a pedra do Sino de Itatiaia. Como estávamos na Travessia do Rancho Caído, fizemos uma visitação nestes dois atrativos naturais.

Atravessando uma das nascentes do rio Aiuruoca, seguimos a direita com a visão da pedra do Sino e bem ao fundo a pedra do Altar. Paramos na sombra dos Ovos da Galinha para vislumbrar a imponência do maciço rochoso do Sino.

A trilha seguiu numa ascensão inicial mais inclinada e suavizou na metade da subida. Com olhar atento no caminho, que sutilmente se desenha nas curvas de nível e totens ao longo do trajeto, com uma vista panorâmica espetacular.

Assim, os Ovos da Galinha pareciam menores e outras formações rochosas curiosas surgiram quando atravessamos o trecho menos inclinado, com destaque para a serra ao fundo dos picos Marombinha e Maromba.

Ao chegar no cume, a 2.670 m de altitude, fomos primeiramente assinar o livro. Deste ponto, a amplitude do Parque Nacional de Itatiaia é imensa, com destaque para o pico Agulhas Negras, pedra do Altar e morro do Couto.

A visão é ampla, 360º a perder de vista. Com ajuda de um binóculo podemos ir longe na observação do caminho das trilhas, do acampamento Rancho Caído, e até do pico do Papagaio em Aiuruoca e pedra do Selado em Visconde de Mauá.

Travessia em Montanha

” A travessia de uma montanha revela tanto a força dos nossos passos quanto a grandeza dos nossos sonhos. “

A travessia em montanha é uma jornada desafiadora e inspiradora que pode nos levar ao limite físico e mental. É uma experiência que nos permite conectar com a natureza de uma forma profunda e nos desafia a superar obstáculos e medos.

Quando começamos a trilhar o caminho, somos recebidos pela imponência das montanhas que se elevam diante de nós. A grandiosidade da paisagem nos lembra de nossa pequenez diante da natureza e desperta um sentimento de humildade. A cada passo, sentimos a energia da montanha nos impulsionando para seguir em frente.

A travessia em montanha exige preparo físico e resistência. É necessário enfrentar trilhas íngremes, terreno acidentado e condições climáticas adversas. Mas é exatamente nesses desafios que encontramos força e determinação. Cada subida e descida nos ensina a persistir, a encontrar equilíbrio mesmo nas situações mais difíceis.

Além dos desafios físicos, a travessia em montanha também nos proporciona momentos de introspecção e autoconhecimento. Durante as horas de caminhada, temos a oportunidade de refletir sobre nossas vidas, nossas escolhas e objetivos. A montanha nos convida a deixar para trás o cotidiano e encontrar clareza em meio à natureza.

A medida que alcançamos o topo da montanha, somos recompensados com uma vista panorâmica de tirar o fôlego. A sensação de conquista e admiração diante da beleza natural ao nosso redor é indescritível. No momento em que atingimos o pico, contemplando o horizonte, sentimos nosso coração em conexão com o mundo.

A travessia em montanha também nos ensina sobre trabalho em equipe e solidariedade. Muitas vezes, realizamos a jornada com amigos de aventura, compartilhando momentos de alegria, dificuldade e superação. Nos momentos em que enfrentamos obstáculos maiores, encontramos apoio uns nos outros, fortalecendo a confiança mútua.

No final da travessia, quando voltamos para casa, carregamos conosco as lembranças, aprendizados e transformações que ocorreram durante essa jornada. A experiência de atravessar uma montanha nos torna mais resilientes e gratos. Aprendemos que podemos superar desafios, nos reconectar com a natureza e descobrir nossa força interior.

A travessia em montanha é uma metáfora poderosa para a vida. Ela nos lembra que, embora o caminho possa ser difícil e repleto de obstáculos, se mantivermos a determinação e a vontade de avançar, seremos capazes de alcançar grandes alturas e descobrir um mundo de possibilidades além dos limites que impomos a nós mesmos.

Turbine seus Sentidos

” Na natureza, somos mais vistos pelos bichos do que na realidade conseguimos vê-los.”

Os seres humanos dispõem de cinco sentidos (audição, olfato, paladar, tato, visão) e um sexto sentido chamado intuição. Quanto aos animais, nem todos têm igualmente apurado e desenvolvido estes sentidos, estando adaptados às necessidades que enfrentam no meio onde vivem. Por outro lado, alguns desenvolveram super sentidos.

Por exemplo, ao menor barulho na mata, um bando de Saguis-de-tufo-preto veio nos ver. Chegaram rápido saltando de galho em galho e pelos troncos. Mataram a curiosidade e foram embora. A boa surpresa foi avistar um adulto com seu filhote nas costas.

Neste caso, a corujinha-buraqueira chamou atenção pelos grandes olhos amarelos, prontos para enxergar em condições de baixa luminosidade e cem vezes mais que o ser humano. Além de uma ótima audição para localizar a presa apenas com este sentido.

” Pior que não avistar uma onça camuflada na mata, é não perceber a presença de uma serpente antes dela sentir a sua.”

Nesta situação, ela estava bem camuflada no caminho. A vimos ao mesmo tempo que ouvimos o som do seu chocalho. Era uma cascavel que agitou sua cauda com guizo, que é um aviso sonoro aos predadores, advertindo que estava pronta para se defender ou atacar.

Portanto, não importa em qual meio ambiente você esteja, turbine seus sentidos na potência máxima, porque os macaquinhos peraltas, as corujas bisbilhoteiras e as cobras peçonhentas estão soltas por aí.

Tucanaçu

Esse é o nome que mais gosto. Também popularmente conhecido como tucanuçu, tucano-grande, tucano-toco ou Ramphastos toco. É uma das mais de 40 espécies da família.

É o maior dos tucanos, com pouco mais de 0,5 m de comprimento e pesando mais de 0,5 kg. Uma belo pássaro. Plumagem negra do dorso ao ventre, cor avermelhada embaixo da cauda e de papo branco. Na ponta da maxila e bico possui uma mancha negra. Ao redor dos olhos possui uma pele amarela, sem plumas, e pálpebras azuladas.

O mais notável é o grande bico alaranjado, serrilhado para frente, de tecido ósseo esponjoso, formando uma estrutura airada, resistente, leve e termo reguladora para dissipação do calor. Curioso também como dormem. Os tucanos podem virar e elevar a cauda para a frente até tocar e esconder a cabeça para trás, camuflando o bico colorido.

É o único tucano que pode ser encontrado tanto em campo aberto (Cerrado), área urbana, como em floresta tropical úmida (Amazônia). Este foi avistado nas montanhas do Parque Estadual do Ibitipoca em Minas Gerais. Inclusive fósseis do Ramphastos toco no Pleistoceno, a 20.000 anos atrás, foram encontrados no município mineiro de Lagoa Santa.

Os tucanos são monogâmicos. O casal incuba os ovos e alimentam os filhotes. Se alimenta principalmente de frutos, insetos, pequenos lagartos e ovos. Não se surpreenda vê-los comento filhotes de outras aves. Por outro lado, seus predadores são aves de rapina, serpentes e macacos. Quando atacados, fazem muito barulho porque vivem em bando.

Como outras aves, o tucano também representa a liberdade, ou em sonho, um espírito aventureiro. Como arquétipo, ao interagir com ele, trará clareza e novas realizações.

Ovos da Galinha – Parque Nacional de Itatiaia

O maciço de Itatiaia revela grandes afloramentos rochosos em um processo erosivo de milhões de anos.

Pela manhã partimos na caminhada, a partir do camping Rebouças, contemplando as belas paisagens no planalto de Itatiaia.

As montanhas e pedras de Itatiaia, com formas no mínimo curiosas, receberam nomes como Agulhas Negras, Altar, Asa de Hermes, Assentada, Camelo, Couto, Maçã, Prateleiras, Sino e Tartaruga.  

Uma formação rochosa em especial é chamada de Ovos da Galinha. Localizada entre a cachoeira do Aiuruoca e Pedra do Sino.

No cume da Pedra do Altar se avista os ovos como cinco pedras sobre uma pequena elevação rochosa.

A princípio parecem pequenas, no entanto quando nos aproximamos, os Ovos da Galinha impressionam pelo tamanho. Quanto ao formato, toda imaginação é valida para vê-las como ovos de uma galinha.

Entretanto, uma delas parece uma “mão gorducha” e outra uma “galinha da angola”. Outra curiosidade foi encontrar no chão de pedra uma depressão em formato perfeito de um “coração”.

Dia de muita nebulosidade, ventania e calor. Aparentemente as chuvas mantiveram-se na região de Visconde de Mauá e Itatiaia.

É trilha para espiar as montanhas com calma.

Nesse caminho avistamos as Prateleiras, Agulhas Negras, Asa do Hermes, Pedra do Altar, Morro do Couto e Pedra do Sino.

No meio da tarde, de volta ao camping, nada melhor que um banho revigorante na represinha do Rebouças. Depois um café para esperar o jantar em noite de lua cheia.

 

Coração Andarilho

Após parada obrigatória, o coração andarilho volta a bater forte. No túnel do tempo das lembranças, de muita andança…

Por tantos caminhos, trilhas e rotas. Muitas missões possíveis, algumas intrincadas, outras tolas, e tantas peripécias. Brilho no rosto, sorriso estampado. Espinhos pelos caminhos. Desvios, enganos, erros, mudanças de rumo. A dor é inevitável durante o percurso. Sempre com gente boa, amigos, vizinhos e camaradas de longa jornada. Algumas vezes solo, em outras solitário nos pensamentos oportunos. Gratidão pela trajetória itinerante. Como um passante, repetida vezes ou na primeira chance, a magia está sempre presente naquilo que o andarilho vê. Nas cores da alegria, na esperança da liberdade verdadeira. Buscando coragem frente ao desconhecido. Um viajante fugitivo que logo se encontra consigo mesmo. Apaixonado pela trajetória. De espírito aventureiro, um caminhante autêntico. Também conhecido como mochileiro, andarilho.

Templo Selvagem

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A selva é um santuário da mãe natureza.

Dentro dela ocorrem verdadeiros renascimentos dos seres que buscam alguma vivência em harmonia com a mata selvagem.

O jângal cobra de cada caminhante, coragem, humildade e perseverança para encarar as adversidades do percurso e seguir em frente.

Em certos momentos, os caminhos adentram genuínas abadias. Como numa redoma, amparada naturalmente por troncos e raízes aéreas.

A floresta revela um templo em equilíbrio. Cada movimento tem um significado. Sempre pedimos por proteção e entendimento para compreende-la.

No íntimo de uma selva, como num templo, somos carentes de compreensão de tudo, mas sempre agraciado com um regato cristalino ou uma brisa refrescante.

Uma Baita Travessia – Ilhabela

Logo no primeiro aclive, um mar imenso, azul e misterioso. Atentei a batida das ondas na encosta. Sim, na travessia do canal, água calma como uma lagoa e na costeira sul-leste da ilha, impera grandes ondas, fortes correntes marítimas e muitos naufrágios.

Do Borrifos, a caminhada em estradinha de terra se transforma em trilha de pedras e terra batida, alternando planos e desníveis, longe da encosta, agraciado pela sombra da mata e refrescante água doce nas cachoeiras da Lage, Areado e Saquinho.

Após algumas horas, a trilha sai da mata, se acolhe próximo a encosta no estonteante mirante do Bonete. Ali bem escondida, a comunidade caiçara do Bonete vive tranquilamente, onde se proseia com os caiçaras as histórias, lendas e mistérios da ilha.

No segundo dia, após bom descanso e café da manhã reforçado, seguimos na travessia subindo o mirante da Barra para nos despedirmos do Bonete. Olhando para o lado sul da ilha, uma extraordinária vista da Ponta do Boi.

De volta a trilha, em pouco tempo alcançamos a praia das Enchovas. Admirável praia, deserta, por toda extensão literalmente revestida em pedras, até tocar o mar no canto oposto, onde as pedras se agigantam em belas formações para mar adentro.

Atravessamos um refrescante riacho para seguir, na margem oposta, a trilha em direção à praia de Indaiauba. Outra pausa, deste ponto a travessia se afasta da costa, segue picada na mata, atravessa charcos, entre aclives e declives dentro do jângal atlântico.

Após horas de travessia, pausa rápida na praia Vermelha e seguimos para praia Mansa e depois até o destino final, a praia de Castelhanos. Era tarde de sábado e rolava aquele futebol na areia da praia. Ficamos por ali mesmo apreciando aquele entardecer.

No dia seguinte exploramos a enseada de Castelhanos, do mirante do Coração ao mirante, cachoeira e praia do Gato. Inclusive na praia do Gato, debaixo das pedras, pudemos temer as águas agitadas e perigosas das marés e ondas fortes.  

No último dia, subimos a estradinha de terra em direção a balsa para voltar ao continente. Nos despedimos da comunidade caiçara de Castelhanos. Naquela manhã o mar estava bem calmo e a praia deserta, encoberta por um misterioso nevoeiro.

Em cada acampamento, deixamos o local onde acampamos igual como o encontramos. O lixo produzido foi trazido conosco e descartado em local apropriado.

As Pegadas ao Meu Lado

” As pegadas das pessoas que andaram juntas nunca se apagam. “

Provérbio Africano

” Não ande atrás de mim, talvez eu não possa liderar. Não ande na minha frente, talvez eu não queira segui-lo. Ande ao meu lado, para podermos caminhar juntos.”

Provérbio Ute

Enselvado – Saco do Mamanguá

Embrenhado na mata. Tudo a flor da pele. Em movimentos compassados, desviando do jângal cortante. Atento aos seres ocultos que rastejam no matagal escuro. Encoberto nas folhagens grossas, busco as frestas de luz. Vem do alto. Tudo verde, tons claro escuro. Natureza viva, esperança. Estimulo reconfortante, na caminhada calma. O verde acalma. Passo-a-passo, corpo e mente ativos, equilíbrio em terreno intocado. Na selva, gotejo. Assombrado em pesar meu estado finito. Seguindo em frente, rasgando a mata, entre espasmos musculares e ardume nos pés. Assolado pela dor. Afora energias boas para depurar os corpos. Sigo a luz na folhagem. Fecho os olhos, me transporto, leve em espírito. Capturo a energia do sol, me aqueço. Nas células da planta vejo espectros de luz, verde ás suas folhas. Como uma simbiose entre seres. Que movimento incrível, volito livremente nas copas mais altas, num revoar controlado. Indo além da mata escura. Driblo a densa folhagem, já me vejo bem acima, agora contemplando a imensidão em tons verdes. No absurdo da minha imaginação, extravagante, acordo descansado, e novamente enselvado.