” As montanhas são professoras silenciosas, e elas nos ensinam nobres qualidades: humildade diante da natureza, modéstia, coragem, privações e força de vontade. “
Hermann Buhl
“ Os tupinambás vendo aquela porção de terra elevada, com uma das faces desprovida de mata, deram o nome de baepi, do tupi-guarani, morro calvo. ”
Ir para as montanhas de Ilhabela é sempre um desafio, sendo a ilha mais montanhosa da costa brasileira com extensão de 337 km2. Soma-se a isto um clima úmido com temperaturas e chuvas elevadas em boa parte do ano, em meio a uma mata atlântica preservada pelo Parque Estadual de Ilhabela.
Suas montanhas somam sete pontos culminantes com altitudes que variam de 1.048 a 1.375 metros, respectivamente Pico do Baepi e Pico de São Sebastião.
A surpresa do Pico do Baepi é sua localização privilegiada. O pico pode ser avistado facilmente do lado do continente, durante a travessia da balsa e dentro da ilha. A identificação está no paredão rochoso com mais de 150 metros, a única entre as montanhas do lado do canal.
A trilha está a sudoeste do pico e bem sinalizada pelo parque. O percurso é todo de subida na ida e descida na volta, numa extensão de 7,5 km a partir da cota 200 m até o cume a 1.048 m de altitude, em 5 horas de caminhada.
” O caminho numa encosta de sapezal até chegar num platô onde existe um mirante voltado para o canal de São Sebastião. Aqui já valeu o esforço inicial. Seguimos na trilha sentido leste, por meio quilometro, descendo e subindo uma suave depressão em direção a mata. “
Dentro da mata a subida começa a ficar mais inclinada. Após passar um pequeno bambuzal a subida ficará mais íngreme com pontos de parada para descanso. O aclive vai aumentando e consequentemente a dificuldade também. Outros bambuzais, agora mais extenso e difícil de serem ultrapassados. As placas indicativas sinalizam a proximidade do pico.
No cume, avista-se o canal de São Sebastião repleto de pequenas embarcações e imensos petroleiros e cargueiros. Aos pés do pico, o centro urbano da ilha com vista para um litoral de águas abrigadas por pequenas enseadas. Do outro lado do canal, a cidade de São Sebastião e ao fundo a Serra do Mar.
” Nas direções leste, avistamos somente montanhas tomadas por uma densa mata atlântica, sem nenhuma visão do lado oceânico da ilha e suas praias selvagens. “
“Finalmente, ao sul avistei o ponto mais alto da ilha, o Pico de São Sebastião, mas vamos deixar essa aventura para um próximo post.”
A travessia da Serra Fina é um clássico do montanhismo brasileiro. Dizem que no sentido contrário, da Fazenda do Pierre a Toca do Lobo, o desafio é maior.
Nesse trecho fomos da Pedra da Mina (2.798 m a.n.m.) ao Capim Amarelo (2.491 m a.n.m.).
” Magnifico entardecer com vista do Capim Amarelo bem ao centro. “
No dia seguinte, acordamos logo cedo para ver o nascer do sol com a silhueta do Pico das Agulhas Negras ao fundo.
” Aproveitamos também para nos aquecer após uma longa e fria noite. “
A oeste, a sombra da Pedra da Mina destacou ao centro o pico Capim Amarelo, nosso destino naquele dia.
Como na Serra Fina não tem trégua, o calor e nebulosidade foram constantes durante todo o trajeto.
” O vento, como sempre, demostrou sua força desenhando ondas de nuvens ao longo da crista da serra. “
Após duas horas de trekking paramos para coletar água no rio Claro e por volta do meio dia o clima dava sinais que teríamos um pé-d’água ao final da tarde.
Na descida ao acampamento Maracanã começou a chuviscar e logo chegou uma forte cerração.
” O perrengue se instalou na subida do Capim Amarelo, com vento, frio e chuva. “
Com gana e a passos lentos chegamos ao cume. Montamos e pulamos rapidamente para dentro das barracas.
Em poucos minutos a chuva cessou, a temperatura aumentou e podemos sair dos abrigos. Apesar do cansaço fomos preparar o jantar.
Para nosso deleite, o pós-tempestade deixou a tarde mansa, de ar parado, céu alaranjado e a visão de onde partimos pela manhã.
” A Pedra da Mina escondida entre nuvens. “
Em cada acampamento, deixamos o local onde acampamos igual como o encontramos. O lixo produzido foi trazido conosco e descartado em local apropriado.
“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.”