Pico Santo Agostinho – Alagoa

Na busca de novas trilhas chegamos ao município de Alagoa numa bela manhã de sexta-feira. Como era final de junho, o frio típico foi espantado com um café quente. Inclusive o dia todo ficou com nebulosidade e vento gelado.

Alagoa faz divisa com Itamonte, Aiuruoca, Baependi e Bocaina de Minas, ou seja, uma região de topografia singular, repleta de montanhas e vales. A cidade está a 1.130 m de altitude e o ponto mais alto é o Pico Santo Agostinho a 2.380 m, nosso objetivo.

Então de Itamonte para Alagoa, seguimos 23 km pela estrada e desviamos a esquerda, sentido PESP – Parque Estadual da Serra do Papagaio, por mais 8 Km até o início da trilha.

Do ponto inicial, a 1.700 m de altitude, a trilha segue numa subida constante. Existem placas indicativas e o traçado do caminho no chão é visível. A trilha é praticamente pela crista da montanha rumo ao pico Santo Agostinho, que é também conhecido como Pico do Garrafão.

Esta é uma entre muitas outras trilhas onde praticamente durante todo o percurso a vista panorâmica é de cair o queixo.

Ao chegar no pico temos a visão do Vale do Garrafão logo abaixo e o Pico Mitra do Bispo, a 2.190 m de altitude, ao fundo. Além é claro de uma visão 360º das montanhas deste trecho do sul de Minas Gerais.

No retorno é só descida, então esta visão panorâmica se amplia magnificamente. Como ninguém é de ferro, fomos até a cidade comprar queijo artesanal, dado que Alagoa é considerada a “terra do queijo parmesão”.

Sobre Rochas – Pico dos Marins

” Sobre rochas eu ando. Não importa se arenito, basalto ou calcário. Também pode ser granito, quartzito ou até dolomito. Mas especial mesmo é o Filito, Sienito e Xisto. Quem é quem, não sei muito bem, mas eu garanto que caminho sobre rochas. “

O trekking para subir o Pico dos Marins é considerado de dificuldade média-pesada. Como a subida não requer equipamentos de escalada é denominada escalaminhada, ou seja, nos pontos mais difíceis será necessário o uso das mãos em rochas ou arbustos, tanto na ascensão quanto na descida. O uso de cordas pode facilitar em alguns pontos da trilha. Em outros aproveita-se as fendas e agarras, use o máximo da aderência das mãos e pés.

Como sempre, é bom estar acompanhado com alguém experiente para dar dicas, principalmente se é a primeira vez na rocha. Prepare-se para viver uma experiência única. Sentir na pele o esforço físico. Dizer que o coração vai sair pela boca. Dos músculos doerem após passarem dias da caminhada. A sensação pode ser fascinante ou horrível. Estar mentalmente positivo ajuda bastante. Por isso, caminhar sobre rochas não é para qualquer um. 

Temporada de Montanha – Serra da Mantiqueira

Em abril damos início a Temporada de Montanha. Com a chegada do outono inverno, temos a melhor época para prática do montanhismo, e assim podemos trilhar nas montanhas da serra da Mantiqueira

Diferente do verão com aquele calor intenso e tempestades eletromagnéticas, os dias começam a ficar mais agradáveis até a estação do inverno, onde as temperaturas baixas são impactantes nas montanhas da região sul e sudeste do Brasil.

Ou seja, as temperaturas atingem facilmente abaixo de zero graus célsius. As geadas são comuns. Em condições especiais de clima até podemos ter alguma precipitação de neve nos pontos mais altos da Mantiqueira.

Estamos numa área privilegiada de montanhas e vales, entre as mais altas do Brasil, cujo cenário paisagístico é de imensa beleza. Nas travessias e ascensão aos picos mais altos o desafio é grande e a recompensa muito maior.

O montanhismo é dar significado as coisas simples, ao meio ambiente e ao autoconhecimento. É sentir alegria em uma simples caminhada e ter resiliência nas mais duras travessias.

Ter a satisfação do encontro com aqueles que compartilham da mesma paixão, onde alguns estarão de passagem e outros se tornarão amigos.

Que a temporada seja extraordinária!

Montanha!

Vida Caiçara – Travessia Mamanguá, Cajaíba e Juatinga

A vida caiçara é dura, mas…

Observando os barquinhos de pesca chegando na praia, me ocorreu a lembrança dos pescadores e seus causos.

” Das longas jornadas em alto mar quando até os mais experientes são assolados pelo enjoo. O perigo das grandes ondas que lavam a alma. Onde se manter a bordo é uma luta pela sobrevivência. Vida de pescador é difícil.

A pesca artesanal se acabando devido a competição com os pescadores predatórios. Hoje em dia, sem tanto peixe, alguns vão longe para dentro do grande mar. Outros vão embora para a cidade, na esperança de um trabalho melhor, que não existe. Alguns se organizam em associações para se fortalecerem.

Existe esperança no ecoturismo sustentável de base comunitária, para complementar a renda que não vem mais da pesca abundante. Eles resistem em suas terras e parecem felizes. “

A TRAVESSIA

Esta travessia do Saco do Mamanguá, Enseada da Cajaíba, Ponta da Juatinga, Cairuçu das Pedras, Ponta Negra, entre Parati Mirim e Vila do Oratório / praia das Laranjeiras, litoral sul do Rio de Janeiro, é um trekking singular no desafio da travessia e das belas paisagens costeiras. A travessia pode ser realizada em ambos os sentidos. Para facilitar o deslocamento, o trekking foi realizado fora da alta temporada e do clima  de verão.

As trilhas bordejam encostas, em subidas e descidas pela mata atlântica, até o encontro com enseadas e praias paradisíacas. No período da tarde devido ao sol e alta umidade, as paradas eram frequentes. Com isso mergulhávamos na observação respeitosa do modo de vida simples das comunidades que habitam essa região costeira. O entardecer era louvável na expectativa de cumprir o percurso, achar um acampamento para pernoite e poder contemplar mais um pôr do sol.

Em cada acampamento, deixamos o local onde acampamos igual como o encontramos. O lixo produzido foi trazido conosco e descartado em local apropriado.

A vida caiçara é feliz!

Pôr do Sol – Parque Nacional do Caparaó

A travessia dentro do Parque Nacional do Caparaó foi um desafio singular por diversos motivos.

A gente acha que nunca mais vai assistir um pôr do sol tão belo e magnifico devido a tantos outros que já vimos.

Puro engano, pois a cada novo pôr do sol, seja ele em qualquer lugar que seja, a emoção carrega o coração de alegria e ficamos meio que perdidos naqueles últimos instantes de luz.

Aquele entardecer no Caparaó estava carregado de nuvens densas que se movimentavam freneticamente, desenhando coisas no céu além da nossa imaginação.

Que belíssimo final de tarde após mais uma longa jornada de trekking.

Canto do Nema – Parque Estadual de Ilhabela

Após um agradável pernoite na vila do Bonete, seguimos cedo para o segundo dia da travessia Bonete Castelhanos.

A brisa que vinha do mar ajudou a refrescar aquele início de caminhada durante a subida do morro logo ao fundo da vila.

Parando para tomar folego ficamos apreciando a vida simples e calma naquele Canto do Nema.

Os barqueiros iniciando suas ocupações numa quietude só com as pequenas embarcações descansando as margens do Nema.

De volta a travessia, espreitamos novos ventos que trouxeram vigor aos andarilhos.

Cachoeira do Veado – Parque Nacional da Serra da Bocaina

Naquele ultimo dia nos despedimos da Bocaina e descemos a serra do mar em direção a Mambucaba.

Ao raiar do sol tomamos café com o Tião e saímos ligeiro para atravessar os últimos barreiros que estavam bem encharcados devido à chuvarada que caiu a noite toda.

Antes de começar a descida da serra, para nossa alegria, um quadro emoldurado pela mãe natureza se desenhou passo a passo, como um fotograma, naquele pequeno trecho da Trilha do Ouro.

Uma admirável cachoeira se encaixou perfeitamente na moldura de raízes e cipós trazendo à tona toda sua imponência.

Demos graças uma vez mais!

Cachoeiras da Serra – Serra da Canastra

” Na busca dos chapadões e vales, ficamos com a certeza de uma fonte inesgotável de cachoeiras na região da Serra da Canastra. Para fechar com chave de ouro, seguimos em direção ao paredão norte da serra, para as cachoeiras Dorico, antes Antônio Ricardo, e do Vento, também conhecida como dos Escravos. “

Estão localizadas em área particular duas fantásticas cachoeiras a 22 km de São Roque de Minas. Por estrada de terra, fomos parando a perguntando aos moradores locais até chegarmos na fazenda do Sr. Dorico, nome do atual proprietário.

A Cachoeira Dorico, localiza-se dentro de um cânion que forma duas grandes quedas. A primeira queda pode ser vista logo que a trilha desce em direção ao leito do rio, exatamente acima da queda. A queda principal é a segunda, por ser mais alta, uns 45 m, e forma um magnifico poço para banho.

A Cachoeira do Vento, também encravada em um cânion, está elevada no alto do paredão. Com pouco volume d’água e bastante vento, a queda d’água se transforma em spray e muda de formato a todo tempo. Existem apenas mini poços. A vista é imponente. Pode-se ainda escalaminhar as pedras para chegar debaixo da cachoeira e depois explorar um caminho até a grota, que foi um esconderijo dos escravos.

A trilha começa numa subida a direita em diagonal e depois vira para esquerda em direção a cachoeira do Dorico. Voltando pelo mesmo caminho, até a primeira bifurcação, dobra-se a esquerda descendo na trilha. No final subimos até a cachoeira do Vento.

Uma trilha de dificuldade média com 300 m de elevação a 1.100 m de altitude e 8 km de caminhada.

Com estas magnificas cachoeiras fechamos nossa aventura na Serra da Canastra.

Ser Água – Parque Nacional da Serra da Bocaina

Um arroio brota na mata e desce em correntes que se avolumam. No percurso, encontra outros regatos que se unem pela natureza. Quando se vê, já são conhecidos como riachos e rios.

Estes nascedouros se multiplicam graças a mata densa e maciços rochosos que se elevam do interior em direção ao mar. Por conta disso, suas águas despencam em quedas abruptas formando cachoeiras.

Um banho nas águas destas serras é como um elixir. O corpo todo vai ser ativado, da circulação a respiração. Vai expulsar aqueles “roedores” que povoam a mente e dar aquela sacudida no espírito.

Entre um caminhar e outro, estive absorto ao passar horas espreitando estas águas da Bocaina.

Nas águas turbulentas, as corredeiras passam tão rápidas que nem percebemos o tempo; E aos desatentos, vão se enroscando pelo caminho.

Nas águas mansas, os remansos parecem água paradas que escondem o tempo e guardam a pureza das águas claras que limpam mentes nubladas.

Enfim, ser água é ser ilimitado, não temer as quedas, estar atento aos obstáculos, fluir para não estagnar e buscar a calmaria nos momentos turbulentos.

E pensar que estas águas são apenas a infinitésima parte de um todo que chamamos oceano.

Mar de Nuvens – Serra da Bocaina

Subi a serra para mais uma travessia, e me perdi no tempo ao apreciar aquele mar de nuvens.

Como toda caminhada, por mais que seja pela enésima vez, tudo é novo e diferente.

A estrada quase pavimentada deixou apenas lembranças daquele tempo de muita lama, barro e solavancos para chegar ao início da trilha.

Os amigos, como sempre, presentes e companheiros para mais uma jornada nas terras altas da Bocaina.

No caminho encontramos vários grupos e andarilhos, hora compartilhando informações, hora trocando ideias ou apenas desejando um ótimo “ bom dia! ”.

E a natureza? Bela, completa e preservada. Mostrando que a cada estação do ano tem algo novo a revelar, seja nas cores, nas flores, nas águas ou nas nuvens.

Diferente mesmo, era eu! Naquele segundo que ficou atrás, já não era mais o mesmo. A cada passo, a cada escolha, a cada pensamento, sem perceber já havia me tornado uma outra pessoa.

Um lugar onde a simplicidade e o estado natural das coisas, de uma riqueza imensa, me faz tão próximo de eu mesmo que as vezes me assusta.

Acredito que a experiência nos dá a chance de poder inovar, mas é a vivência que nos molda a cada instante.

As melhores coisas da vida são sentidas pelo coração, não adianta apenas olhar ou tocar.

Com alegria segui caminhando nas nuvens, para tentar ver além do horizonte.