Pedra Ana Chata – Monumento Natural Pedra do Baú

Entre eucaliptos e campo aberto em aclive, adentramos na mata. Em constante subida, seguimos a direita na bifurcação em trecho mais inclinado. Logo deslumbramos a vista da pedra acima da copa das arvores. Em suas escarpas podíamos ver minúsculos pontos em movimento, eram os escaladores nas vias da pedra.

Atingimos a trilha principal após uma hora de caminhada e logo chegamos na entrada da gruta. Pelas entranhas da pedra, atravessamos a curta passagem e atingimos um patamar rochoso. Desse ponto, à visão da Pedra do Baú e mais um escalador subindo a pedra.

Em seguida atravessamos trechos com barras, grampos e escadinhas de ferro encravados na rocha. Então fizemos um desvio a esquerda, antes de chegar no topo, para apreciar a vista na ponta do lado oeste da pedra. Na volta paramos na “janela em U” para apreciar a vista.

Finalmente atingimos o topo da Pedra Ana Chata a 1.670 metros de altitude. O contentamento é sempre bom com a paisagem que se expande numa visão ampla. Na ponta leste da pedra temos a magnifica perspectiva do Baú visto de lado.

Para completar o espetáculo, ainda temos a vista do Vale do Paiol ao lado, o município de São Bento do Sapucaí bem ao fundo e toda a serraria do sul de minas.

Esta trilha, a partir do estacionamento Chico Bento, tem a distância total de 5 km. Com paradas na subida e descida, registramos um total de 3 horas, sem contar o tempo em cima da pedra.

Nuvens Brincante – Serra Marins-Itaguaré

Quem nunca brincou de esconde-esconde…

Na montanha, quando chegam as nuvens, como crianças, brincam com os montanhistas. Logo, escondem as serras por um instante e os picos por dias sem fim.

Em determinadas estações do ano ou locais mostram que são tormentas chegando. Por hora, causam preocupação e não é hora de brincadeiras.

Mas o bom mesmo, é vê-las passando, se misturando e dissipando num movimento frenético. Como criança, as nuvens brincam, correm pelos ares e revelam a beleza das montanhas.

Cadê o Caminho? – Pico do Marinzinho

Sabe quando você já caminhou muito, muito mesmo. Está cansado. Faz uma paradinha para um gole d’água. Assim você olha para cima e vê aquela enorme montanha. Parece que não tem como subir até lá, no topo.

Cadê o caminho? Está logo ali, atrás daquele arbusto, entre as pedras. Não se engane, depois de muitas escalaminhadas e uso de cordas nas partes íngremes, a provocação vai até o último passo rumo ao cume.

Que alívio, o desafio foi superado. Ao lado vejo aquela alegria momentânea. Com a mente serena, humildade sempre e paciência mais frequente que o desejado. Logo, vem a disposição para uma parada obrigatória. Momento de contemplação e gratidão.

Às vezes me desvio do caminho, mas logo volto. As vezes perdido e indeciso, penso que está logo ali, a trilha, o caminho, a resposta, a verdade, o momento presente. Respiro, sorrio, é lá vem ela, silenciosa resposta. Logo, de volta no caminho, sigo em frente, na vida.

O Ar que Eu Respiro – Pedra da Mina

Ar fluido

Acordei revitalizado após longa e extenuante caminhada. No topo da montanha, saí da barraca para apreciar aquele sol animado. Me espreguicei em cada músculo. Dei alguns passos. Ainda meio cambeta, fiz o corpo pegar no tranco.

Ar ativo

Pensei, pare de viajar tanto. Respirei fundo, lento e ritmado. Instantaneamente tudo ficou mais claro. Estava rindo como criança. Raciocínio, reflexo e memória refinados.

Ar renovado

A paisagem era de cinema, cintilante. Um grande sol sobre as nuvens, completamente acima das montanhas. Havia um calor aconchegante e ar fresco.

Ar manifesto

Os raios do sol matinal cortavam a minha pele. Me sustentei com vitamina D. Tudo parecia descomplicado. A mente estava arejada.

Ar da vida

Tentei não pensar em nada. Meu espirito saudou a natureza. De olhar fixo no horizonte veio o sentimento de gratidão. Estava contente por apenas respirar.

Ar puro

A liberdade justa é como respirar o ar puro. A depressão e irritabilidade perecem sem deixar rastros. Santo remédio esse ar puro.

Um Lobo Camarada – Serra da Bocaina

Ao retornar da Pedra da Bacia, seguimos para o local do acampamento no alto da Serra da Bocaina. Ao entardecer o sol de inverno refletia uma luz especial nos campos ao redor.

Notamos um animal saindo da mata para o campo aberto, caminhando lentamente. Era o solitário lobo-guará.

Estava atento e curioso, olhando para todos os lados. Suas grandes orelhas se movimentavam captando sons que nós não podíamos ouvir.

Aparentava uns 20 kg de peso, cerca de 50 cm de comprimento e 90 cm de altura. Seu tamanho impressionava com aquelas pernas finas e longas.

Animal esguio. A pelagem era densa, o corpo parecia vermelho-alaranjado com crina e patas pretas. A parte inferior da mandíbula e ponta da cauda eram brancas.

Como ele come alimento de origem animal e vegetal, parecia forragear algum petisco no campo aberto.

Acho que veio conferir quem eram os invasores de seu território. Ele ficou perambulando e nos observando o tempo todo.

Ficou em silencio. Não fez nenhum tipo de latido e nem marcação de cheiro.

O lobo em geral tem sua fama de mal, carrega suas lendas e superstições em vários lugares que habita, mas esta espécie não é perigosa.

O lobo-guará não é um animal em risco de extinção, porém está vulnerável ou em perigo devido à redução de áreas de vegetação nativa.

No Brasil o lobo-guará é protegido da caça e aparece como animal símbolo na preservação do Cerrado.

O lobo camarada se afastou. Ficou sentado na sombra das árvores e depois sumiu dentro da mata.

Lua Cheia – Pico Queixo da Anta

Após um longo dia de caminhada, montamos acampamento ao entardecer. Era sabido que teríamos em destaque a lua cheia no céu daquele final de semana.

Ela chegou durante o preparo do rancho. Timidamente saiu detrás das árvores na crista da serra. Pura admiração pela sua grandeza inundando o céu noturno.

Como sempre, a mesma face iluminada. Desta vez plenamente iluminada. Deixou o acampamento e arredores bem claro, nem foi preciso usar lanterna.

A noite ficou estonteante. Momento de contemplação e pensativo…

Desde tempos imemoriais a lua cheia desperta paixões e inspiração ao Homo Sapiens. Foi deusa na antiguidade. Influencia o ciclo da natureza, na fertilidade dos seres vivos e no movimento e ritmo das marés. A lua cheia é união entre Yin e Yang. Sinônimo de abundancia. É natureza básica das emoções e sentimentos.

Após horas sob o luar, era como refletir luz própria. Estava pleno de energia. Era a existência humana em sintonia com a natureza e o universo.

No final da madrugada me levantei. Para meu espanto me chamou atenção um ponto expressivamente iluminado no céu noturno.

Estava bem alto, à Leste. Era Vênus o planeta mais brilhante no céu visível. Ele ficou por lá até antes do amanhecer.

Por toda noite a lua cheia correu o céu e foi cair do outro lado atrás das colinas. Vênus foi desaparecendo com o amanhecer.

Enfim, o Sol começou a despontar num facho de luz radiante. Era o princípio de um novo e brilhante amanhecer.

Paisagens do Semiárido – Parque Nacional da Serra da Capivara e das Confusões

Do Tupi, caatinga significa mata branca, ka’a + tinga, visto que a paisagem fica esbranquiçada pela vegetação no período de estiagem e seca extrema.

Todavia nos Parques Nacionais da Serra da Capivara e Serra das Confusões, mesmo na seca, as paisagens do semiárido são divinamente exuberantes e coloridas.

Ao percorrer o circuito Desfiladeiro da Capivara, na boca da Toca do Pajaú, a visão do céu azul em contraste com a terra seca, escondia a beleza que estava por vir.

Nos arredores da Toca do Caboclo da Serra Branca, de antemão pudemos constatar a boniteza dos xique-xique e bromélias abacaxi esparramadas pelo chão rochoso.

Durante o circuito Canoas, Toca do Caldeirão dos Canoas, até onde os olhos podiam espiar, fomos presenteados com uma vastidão de formações inusitadas.

Além disso os desfiladeiros areníticos esculpidos pelas chuvas e ventos realçam as rochas em tons amarelo-alaranjado e cinza-azulado.

No circuito Chapada, adentramos o Baixão das Andorinhas, Toca do Caldeirão do Rodrigues, Toca da Roça do Clóvis e Baixão das Mulheres.

No circuito Boqueirão da Pedra Furada e Sítio do Meio, visitamos os sítios arqueológicos mais importantes, local onde foi encontrado vestígios do homo sapiens e da mega fauna.

São amostras de fogueiras com datação carbono 14 entre 58 a 5 mil anos atrás, e por datação termoluminescência, na base rochosa, entre 100 a 14 mil anos atrás.

Na Toca do Sítio do Meio foi encontrado contas de um colar de grãos, fragmentos de cerâmica e uma machadinha de pedra polida, datados de cerca de 9 mil anos atrás.

Depois fomos caminhar na Serra das Confusões, local mais primitivo e natural, com sítios arqueológicos, grutas, mata e paredões rochosos.

Mocó da Caatinga – Parque Nacional da Serra da Capivara

” Nas trilhas pela Caatinga os Mocós estavam à espreita, meio desconfiados e ariscos. “

Os Mocós saiam das fendas para ver o que estava acontecendo. De olfato privilegiado, sabiam da nossa presença antes de chegarmos. Éramos vistos como uma ameaça, visto que emitiam um som de alerta para o grupo.

Como estratégia para nos aproximar e fotografar, entrávamos na toca no sentido contrário ao vento, a fim de não sermos denunciado pelo olfato aguçado. A princípio, ficavam inerte, e logo saiam desembestado.

O Mocó é um roedor com cauda atrofiada, de pelagem cinza, alaranjado e branco, densa e macia. Animal endêmico do Nordeste e norte de Minas Gerais. Pode pesar 1 kg com comprimento de 40 cm e viver até 8 anos.

” O nome tem origem na língua Tupi, mo’kó, significa animal que rói. “

Pernoite no Queixo da Anta – São Francisco Xavier

Assim que nos despedimos da Dona Ricardina, ao meio dia começamos a caminhada. Neste momento a mochila cargueira nem parecia pesada, apesar da água, comida e equipamento para pernoite no Pico Queixo da Anta que está a 1.740 m de altitude.

Dentro da mata, subimos pela encosta íngreme até a parte rochosa. Ao atingir a crista da montanha, avançamos em direção a parte mais alta da pedra. Neste ponto já podíamos ver no horizonte o município de São José dos Campos.

Em seguida descemos, com corda, uma pequena encosta rochosa. Foram 2 horas de caminhada até a ponta da pedra. Então, preparamos o local do acampamento e café. Era começo da tarde e no horizonte se podia perceber que o poente seria magnífico.

Ao observar atentamente a serra, não pude deixar de admirar o formato peculiar da Pedra Bonita (2.120 m).

Com o sol se encaminhando para atrás da serra, havia chegado a hora de retornar a ponta da pedra.

Como um presente, bem abaixo na mata, do lado esquerdo da pedra, havia um bando de muriquis saltando no alto da copa das árvores. Com o zoom da máquina consegui gravar a movimentação da macacada.

Depois voltei minha atenção para o céu alaranjado. Graciosamente a silhueta do Queixo da Anta se refletiu na encosta ao lado. Na boa prosa ficamos vendo aquele espetacular pôr do sol.

Ao cair da noite, a lua nem incomodou o céu estrelado e as luzes de São José dos Campos e São Francisco Xavier.

Na manhã seguinte, aos primeiros raios do sol, as colinas ficaram todas iluminadas, clareando os morros menores no fundo do vale. Era o prenuncio de um dia de céu de brigadeiro.

Ao examinar minuciosamente até onde a vista alcançava, a oeste, ainda na sombra da serra, os eucaliptos mais altos indicavam a Pedra da Onça ou Mirante de São Francisco Xavier (1.950 m) e na elevação mais ao fundo a Pedra Partida (2.050 m).

Como é bom pousar nas montanhas da Mantiqueira!

Ao retornar, deixamos o local onde acampamos igual como o encontramos. O lixo que produzimos no acampamento foi trazido conosco para descarte em local apropriado.

Terra Firme – Navegar é Preciso

” O sol abraçou o amanhecer e fui remar naquele oceano imenso. Navegava em água mansa de céu azul-fino. Tentava fitar as últimas estrelas da manhã. Remava na medida do meu tempo e pensamentos.

O mar inundou as margens. O mangue desvaneceu. 

Percebi que navegava em direção a grande montanha. Estava sendo engolido pela mata. As ilhotas ficaram na retaguarda e as margens cada vez mais estreitas. A natureza trasbordava e gritava com seus encantos em todos os cantos. 

Navegava em oceano antigo. 

Cansado de remar percebi como a montanha se agigantou. Fiquei aos seus pés. Contemplei sua grandeza em silêncio. Sem precisar do tempo entendi que era hora de retornar.

Naquele momento um boto emergiu do nada.

Após o susto, foi divertido ele nadar ao lado. Então notei a montanha tão distante. Onde foi parar aquela grandeza? Por um instante fiquei pensativo, à deriva. 

Exausto, reuni forças para terminar o percurso e voltar a terra firme. “