Templo Selvagem

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A selva é um santuário da mãe natureza.

Dentro dela ocorrem verdadeiros renascimentos dos seres que buscam alguma vivência em harmonia com a mata selvagem.

O jângal cobra de cada caminhante, coragem, humildade e perseverança para encarar as adversidades do percurso e seguir em frente.

Em certos momentos, os caminhos adentram genuínas abadias. Como numa redoma, amparada naturalmente por troncos e raízes aéreas.

A floresta revela um templo em equilíbrio. Cada movimento tem um significado. Sempre pedimos por proteção e entendimento para compreende-la.

No íntimo de uma selva, como num templo, somos carentes de compreensão de tudo, mas sempre agraciado com um regato cristalino ou uma brisa refrescante.

A Cada Tropeço um Recomeço

Após toda tormenta, dias melhores virão.

Se cansou, descanse. Se parou, recomece. Não há aprendizado sem dor. A esperança é continuadamente o recomeço.    

O caminho é tortuoso e carregado de obstáculos. Hora de seguir em frente. Novas trilhas a vista. Aprender com o passado é o melhor caminho a seguir.

As oportunidades estão sempre a frente. Temos que seguir, confiar e recriar. A cada tropeço um recomeço. Sempre atento! Evoluir é recomeçar.

Um Louva-Deus no Paraíso – Parati Mirim

Após algumas trilhas e caminhadas mais longas na região de Parati Mirim, passamos o último dia em trilhas leves e de curta duração.

Pela manhã já tínhamos percorrido três trilhas: caminhada até uma praia e mangue no Saco do Fundão e uma cachoeira no rio Paraty-Mirim. Em seguida partimos para a praia do Furado. Foram 30 minutos de caminhada em estrada de terra e trilha.

Um paraíso de praia de água transparente, sem onda, praticamente uma lagoa esverdeada, numa extensão de 40 metros de areia. Uma verdadeira piscina natural para se passar horas a beira mar. A praia fica bem em frente a ilha da Cutia. 

Explorando os arredores, no canto direito da praia, entre as pedras, encontramos um louva-deus. Parece um inseto tranquilo, mas não se engane, o louva-deus é um inseto predador nato que evoluiu para ser o melhor caçador.

Carnívoro e inteligente. O louva-deus tem uma dieta a base de insetos, anfíbios e até pequenos répteis. Acredite se quiser, o louva-deus aprendeu a pescar pequenos peixes, como o barrigudinho, e caçar pequenos pássaros como o beija-flor.

E ter um nome como esse não é para qualquer um: por conta de suas patas dianteiras, quando aproximadas, dão a impressão de que ele está rezando.

Floresta de Coníferas – Caminhar é Preciso

Na juventude da alvorada me levanto descansado. A barriga reclama por um reforçado café matutino. Com a mente desperta procuro a janela para ver a serra. Graças a cerração matinal só consigo ver as colinas na vizinhança.

No verde altivo da estrada vejo o céu azul e a encosta coberta por pinheiros. Sigo no aclive ligeiro. Estaciono. Procuro pelo sol que sacode a neblina. Vejo a floresta de pinheiros. Olho para o alto, me surpreendo com as coníferas à frente.

Agacho para conferir o solo pobre e seco. Procuro pelas pinhas ovaladas. Percebo uma floresta antiga de pinheiros escamosos. Ainda na sombra do frio matinal me aconchego para dentro da floresta. Solitário, no silêncio olho para o céu azul. 

Chamamos as pinhas de cones em atenção ao nome coníferas. Não há flores e nem frutos. Neste dia não houve sonido entre as árvores. O vento ficou preso nas colinas ao longe. Se eu pudesse subiria no topo de um pinheiro para ver o horizonte.  

Logo alcanço o topo da colina e busco apurar a vista. Entre os galhos e troncos vejo minha terra nativa. O dia azul destaca a urbe vertical. Soberana nos arranha-céus. O progresso não para. Observo a beleza da curvatura do Arco da Inovação.

Mas aqui dentro da floresta, ser pinheiro longevo é ser forte. Se o minuano chega farto, o pinheiro verga, mas não lasca. Da visão do interior, dá alegria ao caminho as coníferas de semente nua e do emaranhado dos troncos desgarrados.

Uma Baita Travessia – Ilhabela

Logo no primeiro aclive, um mar imenso, azul e misterioso. Atentei a batida das ondas na encosta. Sim, na travessia do canal, água calma como uma lagoa e na costeira sul-leste da ilha, impera grandes ondas, fortes correntes marítimas e muitos naufrágios.

Do Borrifos, a caminhada em estradinha de terra se transforma em trilha de pedras e terra batida, alternando planos e desníveis, longe da encosta, agraciado pela sombra da mata e refrescante água doce nas cachoeiras da Lage, Areado e Saquinho.

Após algumas horas, a trilha sai da mata, se acolhe próximo a encosta no estonteante mirante do Bonete. Ali bem escondida, a comunidade caiçara do Bonete vive tranquilamente, onde se proseia com os caiçaras as histórias, lendas e mistérios da ilha.

No segundo dia, após bom descanso e café da manhã reforçado, seguimos na travessia subindo o mirante da Barra para nos despedirmos do Bonete. Olhando para o lado sul da ilha, uma extraordinária vista da Ponta do Boi.

De volta a trilha, em pouco tempo alcançamos a praia das Enchovas. Admirável praia, deserta, por toda extensão literalmente revestida em pedras, até tocar o mar no canto oposto, onde as pedras se agigantam em belas formações para mar adentro.

Atravessamos um refrescante riacho para seguir, na margem oposta, a trilha em direção à praia de Indaiauba. Outra pausa, deste ponto a travessia se afasta da costa, segue picada na mata, atravessa charcos, entre aclives e declives dentro do jângal atlântico.

Após horas de travessia, pausa rápida na praia Vermelha e seguimos para praia Mansa e depois até o destino final, a praia de Castelhanos. Era tarde de sábado e rolava aquele futebol na areia da praia. Ficamos por ali mesmo apreciando aquele entardecer.

No dia seguinte exploramos a enseada de Castelhanos, do mirante do Coração ao mirante, cachoeira e praia do Gato. Inclusive na praia do Gato, debaixo das pedras, pudemos temer as águas agitadas e perigosas das marés e ondas fortes.  

No último dia, subimos a estradinha de terra em direção a balsa para voltar ao continente. Nos despedimos da comunidade caiçara de Castelhanos. Naquela manhã o mar estava bem calmo e a praia deserta, encoberta por um misterioso nevoeiro.

Em cada acampamento, deixamos o local onde acampamos igual como o encontramos. O lixo produzido foi trazido conosco e descartado em local apropriado.

Aqui jaz um Paquete! – Saco do Mamanguá

Na caminhada tranquila, encantado com os morros esverdeados, céu azul e mar sereno. Era pura alegoria da natureza em seu estado simples e verdadeiro. O calor queimava a pele. Me escondia nas sombras dos arbustos e arvoredos. O refrescar era oportuno.

Então dei de cara com a Jabiraca. Me deleito sorrindo se o nome da embarcação foi dado pelo capitão do barco em galanteio a sua amada, isso é claro, sem ela saber o significado.

No ditado popular jabiraca é mulher feia, um estrupício para falar a verdade, onde a gente passa vergonha em público. Também indica tudo que está velho, não serve para mais nada.

O melhor mesmo foi atirar a mochila de lado e cair no mar. Já de cabeça fria, olhando aquele naufrágio encalhado, me veio que o meio ambiente daria conta de tudo.

Água salgada, marés, vento, sol e chuvas, fariam o serviço completo. O paquete se fará pó, e juntar-se-á areia fina. E lá se vai para sempre a Jabiraca.

Enselvado – Saco do Mamanguá

Embrenhado na mata. Tudo a flor da pele. Em movimentos compassados, desviando do jângal cortante. Atento aos seres ocultos que rastejam no matagal escuro. Encoberto nas folhagens grossas, busco as frestas de luz. Vem do alto. Tudo verde, tons claro escuro. Natureza viva, esperança. Estimulo reconfortante, na caminhada calma. O verde acalma. Passo-a-passo, corpo e mente ativos, equilíbrio em terreno intocado. Na selva, gotejo. Assombrado em pesar meu estado finito. Seguindo em frente, rasgando a mata, entre espasmos musculares e ardume nos pés. Assolado pela dor. Afora energias boas para depurar os corpos. Sigo a luz na folhagem. Fecho os olhos, me transporto, leve em espírito. Capturo a energia do sol, me aqueço. Nas células da planta vejo espectros de luz, verde ás suas folhas. Como uma simbiose entre seres. Que movimento incrível, volito livremente nas copas mais altas, num revoar controlado. Indo além da mata escura. Driblo a densa folhagem, já me vejo bem acima, agora contemplando a imensidão em tons verdes. No absurdo da minha imaginação, extravagante, acordo descansado, e novamente enselvado.

Praias da Serra do Guaruru – Guarujá

Descemos a serra rumo ao litoral de Bertioga. Estacionamos ao lado do canal e nos aparelhamos para pegar a balsa. Do outro lado, aportamos em terras do Guarujá. 

Não pudemos deixar de apreciar a serra do mar, a grande muralha, entre nuvens. 

Aos pés das suas vertentes inclinadas, admiráveis quedas-d’água brotam das encostas até os cursos d´agua encontrarem os mangues e o rio Itapanhaú.

No canal de Bertioga, próximo ao Forte São João e São Luiz, as águas se confrontam para organizar restingas e pequenas praias na porção leste de Guarujá.

Neste trecho adentramos nos caminhos da Serra do Guaruru.

A trilha da praia Branca começa ao lado do posto de pedágio da balsa. Este trecho é pavimentado para facilitar o acesso a comunidade caiçara da praia Branca.

De pés descalços na areia branca caminhamos em direção a ilhota, que na maré baixa se liga a praia e ao costão rochoso.

Embaixo de um chapéu de sol paramos para apreciar a vista.

Seguindo na trilha da praia Preta, em mata atlântica bem preservada, o caminho estava enlameado e escorregadio.

Entre subidas e descidas, o lamaceiro foi diversão e atenção.

No final da praia Preta as árvores refrescaram o nosso descanso.

No trecho final da trilha na mata, alcançamos a praia do Camburi. De imediato avistamos a ilha do Guará.

Na praia Preta a natureza selvagem domina o ambiente, mas nesta praia do Camburi havia algumas moradias embrenhadas na mata.

Estas trilhas têm ótimas paisagens, mas é preciso esgotar o dia até o entardecer para apreciar esta lindeza toda. 

Sexta-feira numa Comunidade Caiçara – Saco do Mamanguá

Após aportar em águas tranquilas, a tarde trouxe vento terral e baixa-mar. 

Era tarde de sexta-feira na comunidade caiçara da praia do Cruzeiro. Simplesmente fiquei paralisado com os tons azulados da vista do Saco do Mamanguá. Entre nuvens, o sol encobria o que estava por vir, o pôr do sol.

O calor já não era escaldante. Então chegara o momento de caminhar na areia molhada da praia do Cruzeiro e acompanhar como verdadeiramente tranquilo é uma sexta-feira nestas bandas. Preguiçoso era meu caminhar naquele entardecer.

Assim chegou à tardinha o céu azul-alaranjado. As águas do mar recuaram, as marolas sumiram e a comunidade simplesmente curtia aquele pôr do sol. Os juvenis brincavam naquela aparente lagoa salgada. Algumas poucas crianças se lambuzavam na lama de areia, olhando como se eu fosse um ser de outro planeta. Alguns jovens e adultos ficaram à espreita para ver o anoitecer.

O império da natureza, como sempre, trouxe mais um magnifico pôr do sol.

Um menino brincava com seu cachorro sem perceber o espetáculo a tempo, enquanto que outro parecia anestesiado com aquelas cores, do azul-alaranjado, entre claro escuro, e o prateado se misturando nas águas e céu do Mamanguá.

Do outro lado, a lua no quarto crescente disputando atenção com o Pico do Pão de Açúcar. No relógio, nem dezenove horas ainda eram. Assim é uma sexta-feira na comunidade da praia do Cruzeiro.

Linha Tênue – Saco do Mamanguá

Às vezes é preciso adentrar por mares e terras desconhecidas, sem saber exatamente onde começa e termina cada um deles. No mar sem fim, em dia de azul celeste, a vista se perde na linha tênue da terra verde.

Às vezes é preciso subir nas alturas do chão elevado para ver a verdadeira dimensão das terras desconhecidas. Sem poder enxergar além do que o horizonte alcança, a imaginação vai longe nas entranhas da terra verde.

Em terras devastadas pelos cépticos, caminhamos em direção crescente do amparo, da beneficência e da continência. Então de braços abertos agradecemos esta linha tênue entre o Céu e a Terra, de sutilezas, que vão além do que a vista alcança.