Tem dias em que o vento parece falar, não em palavras, mas em empurrões e desconforto. Hoje foi um desses dias – e, mesmo assim, resolvemos subir a montanha.
O vento não parava. Ele não atrapalhava, mas também não dava descanso. Estava ali o tempo todo, como uma presença firme, lembrando da força da natureza. A trilha seguia a quase dois mil metros acima do nível do mar, aberta para o horizonte em todas as direções. O vale lá embaixo parecia distante, e o céu, mais perto do que nunca.
Quando o sol começou a descer, o céu transitou de um azul calmo para um laranja intenso. O vento seguia firme, trazendo um som constante e vibrante, alto demais para não ser ignorado, mas também convidava a um silêncio interno, que eu escolhi manter.
Mais tarde, dentro da barraca, com o vento ainda uivando lá fora, tentei acompanhar aquele som incessante, deixando que ele embalasse meus pensamentos. A noite estava escura, uma noite de lua nova, e as luzes das cidades que se espalhavam ao longo do vale brilhavam destemidas, como faróis iluminando todo o vale.
O vento não descansou durante a noite. Soprou firme, como se quisesse me lembrar de que ali, naquele lugar alto e exposto, não há pausa. Antes do amanhecer, saí da barraca. O céu ainda era escuro, mas já havia uma linha de luz crescendo no horizonte.
E ali, de pé, com o rosto voltado para o leste e o vento ainda presente, vi o dia nascer. Não havia espetáculo, só um lento clarear das formas e das cores. Talvez o vento não precise ser domado ou vencido. Talvez ele seja apenas um lembrete de que, mesmo quando tudo parece insistir em não parar, a única escolha é estar presente, aceitar o ritmo, escutar o que o silêncio por trás do barulho tem a dizer, e aprender a caminhar com o vento – não contra ele.








