Dizem que grandes mudanças começam com pequenos passos. No meu caso, começou com uma pequena janela de madeira, que decidiu aterrissar no meu pé. Sim, isso aconteceu de verdade. E não, ainda não entendi a mensagem do universo. Mas ganhei um dedo do pé esquerdo quebrado, alguns hematomas e uma interrupção sutil, porém implacável, da rotina.
É curioso como um único dedo, geralmente ignorado pela minha anatomia, pode redefinir a forma como se experimenta o tempo. Ele não dói tanto assim, não exige drama nem atenção constante. Mas está lá. Presente. Sempre lembrando que as coisas agora andam, ou melhor, andavam, em outro ritmo.
E foi nesse compasso mais lento que esta frase do livro “A Gênese” ressurgiu na minha memória: “O tempo não é senão uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias… e para a eternidade, tudo é presente.”
Pois bem. A eternidade chegou sem avisar, ocupando os espaços entre o “não posso ir ali agora” e “melhor esperar mais um pouco”. O tempo, esse velho apressado, de repente resolveu andar de lado, feito eu tentando desviar de móveis. E tudo, absolutamente tudo, ganhou uma nova duração.
As tarefas continuam, claro. Mas agora são atravessadas com mais cautela, mais presença e, por que não, um pouco de riso. Um leve incômodo vira uma pausa inesperada. A pausa vira reflexão. E a reflexão, inevitavelmente, lembra que a viagem é mesmo muito curta.
No meio disso tudo, há até certa beleza. Ser forçado a desacelerar não é punição, é convite. A vida, que antes parecia exigir urgência para acontecer, revela-se também no quase-nada, no pequeno desconforto que ensina a olhar em volta.
Porque, no fim das contas, talvez seja isso – às vezes, o universo quebra um dedo só para nos lembrar que tudo passa. Devagar, sim. Mas passa. E que a eternidade pode, sim, caber num intervalo bobo entre uma ferida no pé e o passo seguinte. E quando os pés afundarem no barro, é só a vida lembrando que caminhar é preciso.
















