Um Lugar Quase Isolado do Mundo

Entre muitas caminhadas, como dizem, neste “mundão sem porteira”, já encontrei alguns eremitas, pessoas morando em tocas, vales e matas, totalmente isolados do que chamamos civilização.

Em todos os casos, fomos recebidos numa presteza extrema, prontos para ouvir, numa troca de energia pura, onde fizeram questão de uma boa prosa. Serviram café, as vezes apenas bananas, e até ovo frito, beiju e brevidade.

Desta vez, no final da jornada foi necessário atravessar um morro, entre mata e pasto, de um lado para o outro, na Serra da Mantiqueira. Estávamos a quase duas dezenas de quilômetros distante de um pequeno lugarejo, que podemos chamar civilização.

Ao descer o morro do outro lado, avistamos uma casinha branca. Meus pensamentos ficaram à deriva. Seria habitada por um ermitão? Bem, naquele fim de mundo, tão longe para quem está a pé, só poderia morar um eremita.

Na descida, a trilha serpenteava as curvas de nível por onde o gado deveria passar, e as vezes, a casinha branca sumia de vista. Como a jornada estava no fim, o resgate deveria estar ali perto, no final de uma estradinha de terra.

Para nossa surpresa, a estradinha terminava na casinha branca. Naquele exato momento, não tínhamos visto, mas havia um idoso num fusca azul. Era o dono da casinha branca. Houve tempo apenas para saber que ele morava numa cidade grande.

Poderíamos chamá-lo de eremita urbano? Aquele indivíduo que vive na cidade e por vezes foge para seu cantinho no campo, gosta da vida em sociedade, de uma boa prosa, e ama a natureza. Com uma casinha branca e um fusca azul, acho que não.

Bela Vista

Os mirantes na Serra da Mantiqueira se espalham nas trilhas e travessias em montanha. Algumas vezes escondidos e outras escancarados para quem quiser ver.

Um mirante e um abismo, parceiros inseparáveis. Um enxerga as entranhas da terra, e o outro, vislumbra na linha do horizonte o perfil da serrania.

Nos mirantes acima das nuvens ficamos com a impressão de estarmos no olimpo dos deuses. Às vezes, parecem estar tão próximas que podemos tocá-las.

Em todo mirante podemos vivenciar este espetáculo singular da natureza, o nascer e/ou o pôr do sol.

No entanto, ao cair da noite é que percebemos a extensão de um pequeno povoado ou um grande centro urbano. As luzes artificiais irão ofuscar sua vista.

Uma Casinha no Campo

Eu tenho uma casinha no campo onde escrevo minhas estórias e muito mais.

“Onde impera a paz e o silêncio para eu poder perscrutar meus pensamentos. Onde a esperança transborda o riacho, mesmo na estiagem. Onde meu corpo e espírito subitamente se encontram nas noites de luar. Onde os animais silvestres me veem na mata e eu apenas suspeito que estejam lá. Onde eu possa cultivar as egrégoras de boas energias emocionais, físicas e mentais. Onde sempre tem flores no jardim, mesmo em dias pálidos. Onde a colheita fértil mostra que valeu a pena calejar as mãos. Onde o pau a pique e o sapé deu lugar a alvenaria e uma boa internet do Elon.”

Eu tenho uma casinha no campo do tamanho do meu sonho, nem mais nem menos.