Caminho de Mambucaba

A Origem

Mambucaba, de origem indígena, tem alguns significados. O que mais gosto é aquele que diz que era uma ‘passagem’, um caminho utilizado pelos índios que habitavam o litoral para subir a serra do mar até o planalto no Vale do Paraíba.

A História

Os tamoios utilizavam este caminho, as margens do rio, para coletar alimento e subir até o planalto. A partir do século XVI ocorreu a ocupação da região pelos portugueses. Entre final do século XVIII e XIX, o caminho foi rota não oficial do ouro, e o principal caminho exportador do café e importador dos escravos para o Vale do Paraíba. A decadência começou com o transporte do café por ferrovia a partir de 1872, e depois com a abolição da escravidão em 1888. O Parque Nacional da Serra da Bocaina foi criado em 1971.

Os Caminhos

As trilhas do ouro são inúmeras, saindo de outras localidades no alto da Serra da Bocaina. A mais famosa é o Caminho de Mambucaba, em três dias de caminhada, dentro do Parque Nacional Serra da Bocaina, de São José do Barreiro – São Paulo, até a vila de Mambucaba (Perequê), litoral de Angra dos Reis – Rio de Janeiro.

As Águas

As águas são incontáveis, em todos lugares brotam regatos, córregos e rios que se ajuntam ao maior, o rio Mambucaba. Ao longo dessa jornada, as quedas d’água são inúmeras e algumas delas receberam o nome de Santo Isidro, dos Mochileiros, das Posses e do Veado.  

Os Pernoites

Na travessia do Caminho de Mambucaba, na Serra da Bocaina, os pernoites podem ser hospedagem ou camping, com banho quente e refeições, no Tião da Barreirinha ou Dona Palmira, e Zé do Zico ou acampamento selvagem próximo a cachoeira do Veado.

Bocaina, do tupi-guarani, significa ‘caminhos para o alto’, em virtude da grande variação de altitude, mais de 2.000 m, desde o litoral até a serra. Na ‘Entrada do Parque’ e no ‘Alto da Jararaca’ são os pontos mais altos durante a travessia, em torno de 1.500 m de altitude.

Me Leva Beija-Flor – Parque Nacional da Serra da Bocaina

” Me leva Beija-Flor, me leva para onde você for.”

Ave Fantástica

Encontrada nas três Américas. É conhecida por uma diversidade de nomes como Colibri, Cuitelo, Guanambi, pica-flor, chupa-flor, chupa-mel, beija-flor entre outros. Em inglês, “hummingbird”, onde “humming” significa zumbido, do bater das asas.

Tão Pequeno

Parece frágil mas tem uma força fantástica. Sua estrutura esquelética muscular permite voo extremante rápido e ágil. Única ave que consegue ficar parada no ar ou voar em marcha a ré. O batimento das asas pode chegar a 200 vezes por segundo dependendo da direção do voo e condições do clima. O ritmo cardíaco é cerca de 1.200 batidas por minuto. Por isso o beija-flor precisa se alimentar em média 5 a 8 vezes por hora.

Especialista no Meio em que Vive

Todas as cerca de 325 espécies, tem um bico adaptado para se alimentar conforme o meio ambiente em que vive. Por outro lado, tem uma característica comum que é a língua bifurcada e comprida para extrair o néctar das flores (são polinizadores) sendo que algumas espécies comem moscas e formigas. Sua visão é muito aprimorada, além de identificar cores podem detectá-las no espectro ultravioleta.

Beleza Notável

De plumagem brilhante e colorida. A coloração é causada por fatores como nível de luz, umidade e principalmente pela iridescência na disposição das penas que é um fenômeno óptico que faz certos tipos de superfícies refletirem as cores do arco-íris.

Mensageiro dos Deuses

O beija-flor é conhecido como um mensageiro dos deuses e tem na mitologia grega a deusa Íris na personificação do arco-íris e mensageira dos deuses para os seres humanos. Esta ave também simboliza alegria, cura, delicadeza e energia. Um ser mágico que para os nativos da América representam força e harmonia. Para os nativos Hopis, dos EUA, personificam um herói que salva a humanidade da fome visto que o Guanambi intervém na germinação das plantas. Ao passo que os nativos da Colômbia, os Tukanos, atribuem ao Colibri a virilidade porque copulam com as flores.

Cachoeira do Veado – Parque Nacional da Serra da Bocaina

Naquele ultimo dia nos despedimos da Bocaina e descemos a serra do mar em direção a Mambucaba.

Ao raiar do sol tomamos café com o Tião e saímos ligeiro para atravessar os últimos barreiros que estavam bem encharcados devido à chuvarada que caiu a noite toda.

Antes de começar a descida da serra, para nossa alegria, um quadro emoldurado pela mãe natureza se desenhou passo a passo, como um fotograma, naquele pequeno trecho da Trilha do Ouro.

Uma admirável cachoeira se encaixou perfeitamente na moldura de raízes e cipós trazendo à tona toda sua imponência.

Demos graças uma vez mais!

Estrada Sem Fim – Caminhar é Preciso

Na busca de novos desafios em montanha e trekking, não temos escolhas, é preciso seguir por estradas, que muitas vezes parecem não ter fim.

Nestas estradas temos a companhia de um companheiro silencioso: o inexplorado.

O inexplorado nos deixa curioso. Faz a imaginação ir longe. Quase sempre o que vemos ao longe parece impossível de ser atingido e superado. Assim sigo o plano com atenção e cautela. O espírito desbravador deve falar mais alto.

O inexplorado nos deixa cismado. Deixe pensamentos ruins voarem para longe. A intuição é certeira e chega de supetão. Então sigo adiante reavaliando os riscos associados. O espírito observador deve ser superior.

O importante é seguir adiante, estar alerta e saber o momento de estacionar, desviar, ou até mesmo, desistir. A humildade deve ser a primeira companheira.

Por isso seja no asfalto, na terra, no cascalho ou na lama, as estradas são apenas o início da jornada.

Ao final do trajeto, a caminhada só está começando. O jeito é relaxar e aproveitar a paisagem. Caminhar é preciso!

Ser Água – Parque Nacional da Serra da Bocaina

Um arroio brota na mata e desce em correntes que se avolumam. No percurso, encontra outros regatos que se unem pela natureza. Quando se vê, já são conhecidos como riachos e rios.

Estes nascedouros se multiplicam graças a mata densa e maciços rochosos que se elevam do interior em direção ao mar. Por conta disso, suas águas despencam em quedas abruptas formando cachoeiras.

Um banho nas águas destas serras é como um elixir. O corpo todo vai ser ativado, da circulação a respiração. Vai expulsar aqueles “roedores” que povoam a mente e dar aquela sacudida no espírito.

Entre um caminhar e outro, estive absorto ao passar horas espreitando estas águas da Bocaina.

Nas águas turbulentas, as corredeiras passam tão rápidas que nem percebemos o tempo; E aos desatentos, vão se enroscando pelo caminho.

Nas águas mansas, os remansos parecem água paradas que escondem o tempo e guardam a pureza das águas claras que limpam mentes nubladas.

Enfim, ser água é ser ilimitado, não temer as quedas, estar atento aos obstáculos, fluir para não estagnar e buscar a calmaria nos momentos turbulentos.

E pensar que estas águas são apenas a infinitésima parte de um todo que chamamos oceano.

Mar de Nuvens – Serra da Bocaina

Subi a serra para mais uma travessia, e me perdi no tempo ao apreciar aquele mar de nuvens.

Como toda caminhada, por mais que seja pela enésima vez, tudo é novo e diferente.

A estrada quase pavimentada deixou apenas lembranças daquele tempo de muita lama, barro e solavancos para chegar ao início da trilha.

Os amigos, como sempre, presentes e companheiros para mais uma jornada nas terras altas da Bocaina.

No caminho encontramos vários grupos e andarilhos, hora compartilhando informações, hora trocando ideias ou apenas desejando um ótimo “ bom dia! ”.

E a natureza? Bela, completa e preservada. Mostrando que a cada estação do ano tem algo novo a revelar, seja nas cores, nas flores, nas águas ou nas nuvens.

Diferente mesmo, era eu! Naquele segundo que ficou atrás, já não era mais o mesmo. A cada passo, a cada escolha, a cada pensamento, sem perceber já havia me tornado uma outra pessoa.

Um lugar onde a simplicidade e o estado natural das coisas, de uma riqueza imensa, me faz tão próximo de eu mesmo que as vezes me assusta.

Acredito que a experiência nos dá a chance de poder inovar, mas é a vivência que nos molda a cada instante.

As melhores coisas da vida são sentidas pelo coração, não adianta apenas olhar ou tocar.

Com alegria segui caminhando nas nuvens, para tentar ver além do horizonte.

Parque Nacional da Serra da Bocaina

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Percorrer os caminhos da Bocaina é voltar na história e cultura da interiorização no Brasil. Os caminhos e trilhas estão dentro do Parque Nacional da Serra da Bocaina (PNSB), criado em 1971, localizado nos municípios de Areias, São José do Barreiro, Cunha e Ubatuba em São Paulo, Paraty e Angra dos Reis no Rio de Janeiro.

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No início apenas uma trilha indígena. Entre o final do século XVIII e início do XIX, com o ciclo do ouro, o caminho se tornou rota não oficial das riquezas trazidas do interior de Minas Gerais.

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Ao longo do século XIX com o desenvolvimento do ciclo do café no Vale do Paraíba, foram construídos, pelos escravos, calçamento, pontes e benfeitorias. Hoje este calçamento de pedra representa um atrativo histórico na Trilha do Ouro.

Este apoio aos tropeiros e suas tropas de mulas, facilitava tanto o escoamento do café como trazia mercadorias serra acima. O declínio desta rota ocorreu na década de 1870 com o transporte do café por ferrovia, e depois com a abolição da escravidão em 1888.

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Hoje em dia o grande atrativo é a natureza, espalhada num grande corredor ecológico da serra ao mar. Da restinga no litoral, floresta tropical, despenhadeiros, grotões e campos nativos até o ponto culminante a 2.088 m de altitude no Pico do Tira Chapéu.

Abriga animais de grande porte como o mono-carvoeiro, macaco-prego, bugio, tamanduá-mirim, capivara, veado-mateiro, lobo-guará, onça pintada e uma rica ave-fauna como os guanambis. Tudo isso mergulhado num clima úmido e quente podendo chegar a 0º C no inverno.

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As paisagens inconfundíveis da Serra da Bocaina diferenciam claramente da Serra do Mar. Numa imensidão de morros esverdeados entre araucárias e pinheiro-bravo entrecortados por nascentes de águas cristalinas que se avolumam em riachos, cachoeiras e rios caudalosos até o encontro com o mar.

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Os principais atrativos naturais na Serra da Bocaina são as cachoeiras Santo Isidro, dos Mochileiros, das Posses, do Veado, rio Mambucaba, Pico do Tira Chapéu, Pedra da Bacia e o Caminho de Mambucaba (oficial), também conhecida como Trilha do Ouro, que sai de São José do Barreiro (SP) até o sertão de Mambucaba (RJ), litoral entre Paraty e Angra dos Reis.

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Certamente estes caminhos contribuíram para a integração da cultura caipira e tropeira do Vale do Paraíba com a cultura caiçara do litoral de Paraty.

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Local: São José do Barreiro / SP

Entre Trilhas e Trilhos – Caminhar é Preciso

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Os dias tem sido estressante? Muitos compromissos e trabalho em excesso? E assim seguimos em frente. É como estar nos trilhos. Somos conduzidos sem ver com muita clareza, quase sem perceber, no modo automático, refém do nosso mundo de cada dia.

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E nas trilhas? Lembramos que temos o livre arbítrio, podemos escolher o caminho! O poder da observação aumenta. A consciência se expande e a percepção se aguça. Temos a oportunidade de ser uma consciência desperta.

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E assim, durante a caminhada nos redescobrimos como realmente somos. Na auto-observação deixamos os atores no palco e sentamos ao lado do verdadeiro eu expectador. Começamos a perceber o autoengano e acreditamos mais em nossas verdadeiras escolhas.

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Sem contrariar, errar é humano. A vida é assim, na mudança interior entendemos nosso processo evolutivo. É um caminhar constante.

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Quais as trilhas e trilhos que estamos percorrendo? Buscamos o aprendizado de tudo de bom ou ruim que nos acontece? Celebramos as pequenas conquistas e não somente as grandes?

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Que a caminhada nos leve a muitas trilhas do autoconhecimento!

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Bom final de semana!