A Linguagem Oculta das Montanhas

Entre os altos picos e o silêncio profundo das montanhas, existe uma linguagem secreta – uma sabedoria transmitida pelo vento, pela luz do amanhecer e pelas nuvens que deslizam suavemente. Neste espaço de serenidade e beleza, cada pedra e cada céu se tornam um convite ao recomeço, à reflexão e ao despertar da alma. Venha se perder na vastidão do horizonte, onde o impossível se torna possível e a natureza fala ao coração.

Era o mês de maio. A manhã fria anunciava o início de algo especial. A dois mil metros de altitude, o ar era leve, mas carregado de possibilidades. Naquele silêncio imenso das montanhas, tudo parecia se alinhar – o tempo, o espaço e o coração.

Ali na Pedra Alta, a natureza ensaiava um espetáculo raro. O nascer do sol tingia o céu de um alaranjado quente, cortando o frio com sua luz suave. A Serra da Mantiqueira despertava aos poucos, e junto com ela, um sentimento profundo – o de recomeçar.

Mais adiante, na Pedra Bela Vista, o cenário se transformava em pura poesia. Um mar de nuvens dançava sob o céu azulado, enquanto o Vale do Paraíba se escondia ao longe. Diante de tanta grandeza, me senti pequeno, e ao mesmo tempo, iluminado.

E então, só restava entregar-se – à pura contemplação, à atmosfera livre e ao infinito céu. Porque há momentos que não pedem pressa, apenas presença. São nesses instantes que a alma respira e o coração se alinha com o que realmente importa.

No alto das montanhas, entre o frio da manhã e o calor da luz nascente, mora a inspiração. E a certeza de que, enquanto houver noite e dia, sempre haverá um novo começo.

A Montanha Mais Alta – Sapucaí Mirim

“Quando se sobe a montanha mais alta da região e se vê tantas outras, percebe-se quão vasta e majestosa é a Serra da Mantiqueira ao redor. ”

Logo na estrada, ao amanhecer, já avistamos a belíssima formação rochosa do complexo do Baú, com vista das três pedras – Ana Chata, Baú e Bauzinho.

Desta vez nosso objetivo final foi a Pedra Bonita, também conhecida como Pedra do Campestre. É o ponto mais alto de toda região na divisa entre os municípios de Gonçalves e Sapucaí Mirim no extremo sul de Minas Gerais.

A partir dos dois mirantes até o cume, a 2.120 m de altitude, em dia de boa visibilidade e com alguma paciência, é possível avistar uma dezena de pedras, montanhas e serras…

Como as Pedras do Forno, da Balança, da Divisa, do Baú, e Pico São Domingos. 

Observando atentamente, logo atrás do Baú, a silhueta do maciço Marins-Itaguaré, e quase desapercebido a Serra Fina, com destaque para o pico da Pedra da Mina. 

Ainda na Mantiqueira, os Picos Agudo e Trabiju, e Serra dos Poncianos.

Por Gonçalves são 8 km de trilha, enquanto que por Sapucaí Mirim são 10 km.

Trilha Molhada – Serra dos Poncianos

Ela brota nas rochas como um filete de água cristalina. Desce a mata, e logo encontra a primeira queda, uns três metros de altura, uma ducha perfeita. Conhecida como cachoeira Imponente.

Ao redor, a selva densa se projeta em grandes e altas árvores. Em uma delas, é possível atravessar por dentro do tronco. Com sorte, avista-se os muriquis se dependurando por entre as árvores.

Mas chegar na origem, na nascente, não é fácil. É preciso superar os desníveis, as pedras, as águas e o jângal. A vantagem é poder voltar, com todo cuidado, se refrescando em alguns poços.

Praticamente uma trilha molhada. O desnível é menor em alguns trechos, mas a descida é constante e cansativa. Quando chegamos na cachoeira das Couves (foto acima), ela se projeta quinze metros abaixo.

Logo alcançamos uma cascata (foto acima) que não sei se tem nome. Em seguida, voltamos na trilha pela margem esquerda do rio. A partir deste trecho, do lado direito, aflora um imenso maciço rochoso.

Ao chegar na ponte de madeira, atravessamos novamente para o outro lado. Agora o rochoso está a esquerda. Nesse trecho saímos da mata passando por uma propriedade particular, o qual recebemos autorização de acesso.

Este pequeno rio é o Santo Antônio, que incansavelmente continua descendo a serra, até passar próximo a sede da APA São Francisco Xavier, para depois se encontrar com o rio do Peixe.

É uma trilha molhada, bate-volta, de meio dia de caminhada até a cachoeira das Couves. Se for até a cachoeira Imponente e nascente, será necessário o dia todo.

Mistérios no Alto da Serra

Existem mistérios no alto da serra onde o céu azul distrai o caminhante. Onde se descortina raios de luz que aquece os seres da floresta. Alguns se escondem à meia-luz e outros ficam na escuridão.

Que alegria vê-la radiante. A Lua, a plena luz do dia.

” Que bom seria poder brincar, como se fossem bolinhas de gude, com as luas e planetas desse sistema solar, tentando acertá-las no centro da Via Láctea. “

Mas de nada adianta brincar de deus interplanetário sabendo dos inúmeros mistérios do universo que ainda não sabemos explicar.

Vejo adiante. Dentro da mata escura requer justeza na visão. A mata sombria esconde mistérios. Perigos iminentes e reais. Tudo é energia, densa e sutil. Forças opostas se duelam. Tudo está em conexão.

É preciso volitar em direção a luz. Avistar onde os raios do sol se vertem na mata. Bem no alto da folhagem. Parece descomplicado. Algo diferente está no ar. A floresta escura e densa fica distante.

Parece vasto o horizonte de possibilidades. Alguns desenlaces estão a vista. Ainda distante ano luz de todo merecimento. Muitos enigmas a trilhar. Então sigamos caminhando!

Dentro do Coração

” Dentro do coração, em uma pequena cavidade, repousa o universo. “

Mahanarayana Upanishad

” Eu, reflexo da minha real natureza, essência. No entanto, me vejo apegado as coisas, breve e perecível da vida. Me perco em alguma parte. Existe um cara que caminha ao meu lado, o ego, a personalidade mascarada da ignorância existencial. Entre altos e baixos, existem expectativas externas e internas conflitantes, estados emocionais movimentando turbilhões de pensamentos. Muitas vezes empático e outras em total estranhamento. Busco o recolhimento. Surge algo, sutil e permanente. Sereno a mente. Percebo a consciência do verdadeiro ser imaterial e atemporal. Silêncio e comunhão. Ser luz. “

” Volta o olhar para o teu interior. Aí reside a fonte do bem inesgotável, se o buscares sem cessar. “

Marco Aurélio

Desbravador Parte 3 – Pico do Selado

Dizem que o desconhecido e o medo andam juntos.

No poente, temos o anuncio da noite escura, do frio intenso e dos animais que saem a caça. É hora de montar abrigo. O desconhecido e o medo ficaram lá fora.

Ao amanhecer, o sol radiante declara que a vida continua. Momento de contemplação e agradecimento por tudo e por todos os seres vivos.

Respiramos fundo e seguimos em frente, com determinação, vontade e fé.

Como caminhar é preciso, agora é hora de montar a mochila da próxima aventura.

Desbravador Parte 1 e Parte 2.

Desbravador Parte 2 – Mirante de São Francisco Xavier

Dizem que o desbravador não tem medo do desconhecido.

Na montanha, temos que ser fortes e humildes para superar as adversidades do relevo e clima severo. Algumas vezes, temos que respeitar o que a montanha nos diz e entender que nem sempre chegaremos no cume na primeira vez.

A natureza é fascinante!

Ao amanhecer na montanha, o sol desponta no horizonte trazendo luz e calor. Do alto, o mar de nuvens seduz o espírito. O pensamento em oração contempla mais um dia de vida.

Como caminhar é preciso, vamos a última parte desta empreitada exploratória.

Desbravador Parte 1 e Parte 3.

Desbravador Parte 1 – Serra dos Poncianos

Dizem que desbravar é ir ao encontro do desconhecido.

Na mata, mesmo que seja pela enésima vez, e a vivencia tem nos dados alguma sabedoria, toda preparação prévia é crucial; E durante a jornada deve-se cuidadosamente executar como se fosse a primeira vez.

A natureza sempre nos reserva algo novo!

Ao amanhecer os raios de sol despertam a mata. A luz e o calor dão novo brilho aos seres da floresta. O caminho se abre e seguimos em frente.

Dentro da floresta surgem passarelas que formam tapetes de folhas, aliviando nosso caminhar. Em outros momentos todas as árvores querem nos abraçar.

Como caminhar é preciso, em algum lugar na serra dos Poncianos, parte da serra da Mantiqueira, e vamos adiante.

Desbravador Parte 2 e Parte 3.

Pico do Selado – São Francisco Xavier e Monte Verde

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O Pico do Selado está localizado entre os distritos de Monte Verde, em Camanducaia / MG, e São Francisco Xavier, município de São José dos Campos / SP.

Numa sequência de montanhas rochosas da Serra da Mantiqueira temos o Pico do Selado como ponto culminante a 2.080 metros de altitude.

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O acesso pode ser feito por trilhas, tanto pelo lado de Monte Verde como por São Francisco Xavier.

O grau de dificuldade de cada lado está nas distâncias, inclinação, tipo de terreno e trilhas quase todas autoguiadas.

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Pelo caminho mais longo, segue a trilha do Jorge numa travessia de São Francisco Xavier até Monte Verde e depois até o Platô, para então seguir na trilha que chega ao pico.

Outra opção é seguir pela mesma trilha, desviar para a Pedra da Onça, seguir para Pedra Partida sentido Pedra Redonda, Chapéu do Bispo até o Platô e de lá subir até o pico.

Em qualquer destes dois caminhos, será uma longa jornada com mochila cargueira para fazer pernoite e voltar no dia seguinte.

Considere ainda que o trecho da Pedra da Onça até a Pedra Partida não é toda autoguiada.

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Outra opção é pelo lado de Monte Verde. Começar a caminhada pela trilha do Platô, no final da rua da Mantiqueira, ou pela trilha do Chapéu do Bispo, no final da avenida das Montanhas.

Neste caso ambos chegarão ao Platô e depois até o pico. Com uma mochila de ataque pode-se aproveitar bem o dia saindo cedo para voltar ao entardecer.

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Em termos de duração de ida e volta, a estimativa é de 15 horas pelo lado de São Francisco Xavier e 5 horas pelo lado de Monte Verde.

As paisagens desta parte da Serra da Mantiqueira são de tirar o fôlego com visão 360 graus das montanhas do sul de Minas e de São José dos Campos.

Abordaremos as travessias, de São Francisco Xavier a Monte Verde e Serra dos Poncianos, em outros posts.

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Local: Serra da Mantiqueira / Monte Verde e São Francisco Xavier