Vida de Pescador

Não tem como não ser sonhador nessa vida de pescador. Como também, todo pescador sonhador não vive sem amor. Quando as margens do um rio sereno, pacientemente, espera em silencio fisgar um peixe grande.

Na alegria e na dor essa é a vida de pescador. Nem sempre se faz poesia navegando em água revolta. Por vezes, isca no anzol não significa comida no prato. Há dias de ilusões traiçoeiras onde as sereias sussurram ao vento das ondas.

Agraciado com a luz brilhante do sol nascente, entrega seu destino a Iemanjá e seu pensamento voa livre no oceano. Quem não tem medo de sonhar grande, pesca alegrias e dores. Se diante da uma pesca minguada, busca esperança no céu repleto de estrelas.

Após navegar em mar bravio, como em um barco de papel, soube deslizar suave sobre as ondas. Deu graças a nossa senhora dos navegantes pelo retorno ao lar. Chegou devagarinho em seu porto seguro. À noite, descansa ao som das ondas eternas de seus sonhos e desejos.

Todo pescador é um capitão sem fronteiras para ver o sol beijar o mar. Aprende a pescar para seu bem estar. Nem toda história de pescador é um exagero. Basta ver com outros olhos, e aprender a pesca-las.

Coração Andarilho

Após parada obrigatória, o coração andarilho volta a bater forte. No túnel do tempo das lembranças, de muita andança…

Por tantos caminhos, trilhas e rotas. Muitas missões possíveis, algumas intrincadas, outras tolas, e tantas peripécias. Brilho no rosto, sorriso estampado. Espinhos pelos caminhos. Desvios, enganos, erros, mudanças de rumo. A dor é inevitável durante o percurso. Sempre com gente boa, amigos, vizinhos e camaradas de longa jornada. Algumas vezes solo, em outras solitário nos pensamentos oportunos. Gratidão pela trajetória itinerante. Como um passante, repetida vezes ou na primeira chance, a magia está sempre presente naquilo que o andarilho vê. Nas cores da alegria, na esperança da liberdade verdadeira. Buscando coragem frente ao desconhecido. Um viajante fugitivo que logo se encontra consigo mesmo. Apaixonado pela trajetória. De espírito aventureiro, um caminhante autêntico. Também conhecido como mochileiro, andarilho.

Floresta de Coníferas – Caminhar é Preciso

Na juventude da alvorada me levanto descansado. A barriga reclama por um reforçado café matutino. Com a mente desperta procuro a janela para ver a serra. Graças a cerração matinal só consigo ver as colinas na vizinhança.

No verde altivo da estrada vejo o céu azul e a encosta coberta por pinheiros. Sigo no aclive ligeiro. Estaciono. Procuro pelo sol que sacode a neblina. Vejo a floresta de pinheiros. Olho para o alto, me surpreendo com as coníferas à frente.

Agacho para conferir o solo pobre e seco. Procuro pelas pinhas ovaladas. Percebo uma floresta antiga de pinheiros escamosos. Ainda na sombra do frio matinal me aconchego para dentro da floresta. Solitário, no silêncio olho para o céu azul. 

Chamamos as pinhas de cones em atenção ao nome coníferas. Não há flores e nem frutos. Neste dia não houve sonido entre as árvores. O vento ficou preso nas colinas ao longe. Se eu pudesse subiria no topo de um pinheiro para ver o horizonte.  

Logo alcanço o topo da colina e busco apurar a vista. Entre os galhos e troncos vejo minha terra nativa. O dia azul destaca a urbe vertical. Soberana nos arranha-céus. O progresso não para. Observo a beleza da curvatura do Arco da Inovação.

Mas aqui dentro da floresta, ser pinheiro longevo é ser forte. Se o minuano chega farto, o pinheiro verga, mas não lasca. Da visão do interior, dá alegria ao caminho as coníferas de semente nua e do emaranhado dos troncos desgarrados.

Voltar a Ser Livre – Sonho ou Realidade

Agora a liberdade está tão real nos sonhos. Às vezes questiono minha sanidade. Acordar e lembrar do sonho, voltar a dormir e sonhar de onde o sonho parou. Isso sim é maluco. Em um deles subi a colina com mais dificuldade, não desisti. Percebi tudo em preto e branco. Cadê as cores? Cadê a alegria? Senti a respiração ofegante. Olho para trás e nada vejo. Então fui em frente. Caminhei muito mais, por horas a fio. Sei que espírito livre precisa de corpo físico inanimado. Sempre são incansáveis horas de trabalho, as vezes estudo, mas sei bem que muitos deles nada lembro. Certo de que ainda não estou preparado para lembrar de todos. Acordo descansado. Agora tenho outra batalha para lutar. Sei que nesse orbe turbulento é preciso ser guerreiro nas atitudes do bem comum. Vou para o espelho, não é um sonho. Olho no olho, vai encarar? Elevo um sorriso silencioso e respeitoso. Sim existem inimigos lá fora, mas o maior deles acabei de confrontar. Então, coragem! Vamos à luta para lá fora voltar a ser livre.

Enselvado – Saco do Mamanguá

Embrenhado na mata. Tudo a flor da pele. Em movimentos compassados, desviando do jângal cortante. Atento aos seres ocultos que rastejam no matagal escuro. Encoberto nas folhagens grossas, busco as frestas de luz. Vem do alto. Tudo verde, tons claro escuro. Natureza viva, esperança. Estimulo reconfortante, na caminhada calma. O verde acalma. Passo-a-passo, corpo e mente ativos, equilíbrio em terreno intocado. Na selva, gotejo. Assombrado em pesar meu estado finito. Seguindo em frente, rasgando a mata, entre espasmos musculares e ardume nos pés. Assolado pela dor. Afora energias boas para depurar os corpos. Sigo a luz na folhagem. Fecho os olhos, me transporto, leve em espírito. Capturo a energia do sol, me aqueço. Nas células da planta vejo espectros de luz, verde ás suas folhas. Como uma simbiose entre seres. Que movimento incrível, volito livremente nas copas mais altas, num revoar controlado. Indo além da mata escura. Driblo a densa folhagem, já me vejo bem acima, agora contemplando a imensidão em tons verdes. No absurdo da minha imaginação, extravagante, acordo descansado, e novamente enselvado.

A Grande Mãe – Saco do Mamanguá

A admirável mãe se debruçou…

Há séculos em ascensão aos céus, símbolo magno da vida, por vez sequiosa por águas turbulentas, se aproximou do abismo das margens úmidas.

O grandioso tronco se ramificou em galhos fortes na busca do sol vivo. Apesar da superioridade alcançada, se viu pendida sobre o rio Grande. Agora penetra as rochas e foge das corredeiras. Ela bebe das águas do conhecimento. Ainda perene, segue corpulenta.

Agora em tempos de tempestades tardias, da primavera derradeira, as águas turbulentas buscam novos caminhos para transpor a grande mãe. Os espíritos da floresta espreitam felizes nesta brincadeira das águas.

Então fui descansar em seus braços, debaixo do tronco maior, ao lado das corredeiras mansas. Apenas fluido, fluindo nas corredeiras, feliz. A grande mãe me acolheu em seus braços.

A grande mãe é pura regeneração. Sem medo, ainda se avolumando com ímpeto, galhos vertendo verticalmente, incontáveis folhas morrendo e renascendo a todo instante, cíclica, fértil. A grande árvore da fonte da vida.

De raízes imensas, embrenhadas nas profundezas escuras do subterrâneo da terra. Aquele tronco descomunal, vertido na superfície, os galhos buscam forças para alcançar novamente a luz do céu. Até quando a grande mãe vai resistir à tentação das águas descomunais que chegam na estação iminente?

Logo, do tronco ceifado e inerte da grande mãe, a vida regenera num minúsculo broto verde. A morte e vida se confundem. É o ciclo que se renova!

Cadê o Caminho? – Pico do Marinzinho

Sabe quando você já caminhou muito, muito mesmo. Está cansado. Faz uma paradinha para um gole d’água. Assim você olha para cima e vê aquela enorme montanha. Parece que não tem como subir até lá, no topo.

Cadê o caminho? Está logo ali, atrás daquele arbusto, entre as pedras. Não se engane, depois de muitas escalaminhadas e uso de cordas nas partes íngremes, a provocação vai até o último passo rumo ao cume.

Que alívio, o desafio foi superado. Ao lado vejo aquela alegria momentânea. Com a mente serena, humildade sempre e paciência mais frequente que o desejado. Logo, vem a disposição para uma parada obrigatória. Momento de contemplação e gratidão.

Às vezes me desvio do caminho, mas logo volto. As vezes perdido e indeciso, penso que está logo ali, a trilha, o caminho, a resposta, a verdade, o momento presente. Respiro, sorrio, é lá vem ela, silenciosa resposta. Logo, de volta no caminho, sigo em frente, na vida.

Lótus Sagrado – Campos do Jordão

” Suas raízes estão bem no fundo, na lama. A noite fecha suas pétalas e submerge. Aos primeiros raios de sol, ressurge. Floresce radiante e puro. “

Nasci em água estagnada. Da profundeza escura, esgotado, com mais algumas braçadas, emergi. Com a visão turva, desorientado, nadei em direção a luz.

Nasci na lama e ressurgi na luz do sol. Não me ligo ao redor, mas vivo no mundo. Na espiritualidade eminente, da escuridão a luz.

Nascimento e renascimento. A cada momento, a cada ciclo, como o dia e a noite. A origem se faz no presente da luz.

” No Budismo a flor de lótus rosa representa o próprio Buda. “

O Ar que Eu Respiro – Pedra da Mina

Ar fluido

Acordei revitalizado após longa e extenuante caminhada. No topo da montanha, saí da barraca para apreciar aquele sol animado. Me espreguicei em cada músculo. Dei alguns passos. Ainda meio cambeta, fiz o corpo pegar no tranco.

Ar ativo

Pensei, pare de viajar tanto. Respirei fundo, lento e ritmado. Instantaneamente tudo ficou mais claro. Estava rindo como criança. Raciocínio, reflexo e memória refinados.

Ar renovado

A paisagem era de cinema, cintilante. Um grande sol sobre as nuvens, completamente acima das montanhas. Havia um calor aconchegante e ar fresco.

Ar manifesto

Os raios do sol matinal cortavam a minha pele. Me sustentei com vitamina D. Tudo parecia descomplicado. A mente estava arejada.

Ar da vida

Tentei não pensar em nada. Meu espirito saudou a natureza. De olhar fixo no horizonte veio o sentimento de gratidão. Estava contente por apenas respirar.

Ar puro

A liberdade justa é como respirar o ar puro. A depressão e irritabilidade perecem sem deixar rastros. Santo remédio esse ar puro.

Terra Firme – Navegar é Preciso

” O sol abraçou o amanhecer e fui remar naquele oceano imenso. Navegava em água mansa de céu azul-fino. Tentava fitar as últimas estrelas da manhã. Remava na medida do meu tempo e pensamentos.

O mar inundou as margens. O mangue desvaneceu. 

Percebi que navegava em direção a grande montanha. Estava sendo engolido pela mata. As ilhotas ficaram na retaguarda e as margens cada vez mais estreitas. A natureza trasbordava e gritava com seus encantos em todos os cantos. 

Navegava em oceano antigo. 

Cansado de remar percebi como a montanha se agigantou. Fiquei aos seus pés. Contemplei sua grandeza em silêncio. Sem precisar do tempo entendi que era hora de retornar.

Naquele momento um boto emergiu do nada.

Após o susto, foi divertido ele nadar ao lado. Então notei a montanha tão distante. Onde foi parar aquela grandeza? Por um instante fiquei pensativo, à deriva. 

Exausto, reuni forças para terminar o percurso e voltar a terra firme. “