Filosofia com o Pé Esquerdo

Dizem que grandes mudanças começam com pequenos passos. No meu caso, começou com uma pequena janela de madeira, que decidiu aterrissar no meu pé. Sim, isso aconteceu de verdade. E não, ainda não entendi a mensagem do universo. Mas ganhei um dedo do pé esquerdo quebrado, alguns hematomas e uma interrupção sutil, porém implacável, da rotina.

É curioso como um único dedo, geralmente ignorado pela minha anatomia, pode redefinir a forma como se experimenta o tempo. Ele não dói tanto assim, não exige drama nem atenção constante. Mas está lá. Presente. Sempre lembrando que as coisas agora andam, ou melhor, andavam, em outro ritmo.

E foi nesse compasso mais lento que esta frase do livro “A Gênese” ressurgiu na minha memória: “O tempo não é senão uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias… e para a eternidade, tudo é presente.”

Pois bem. A eternidade chegou sem avisar, ocupando os espaços entre o “não posso ir ali agora” e “melhor esperar mais um pouco”. O tempo, esse velho apressado, de repente resolveu andar de lado, feito eu tentando desviar de móveis. E tudo, absolutamente tudo, ganhou uma nova duração.

As tarefas continuam, claro. Mas agora são atravessadas com mais cautela, mais presença e, por que não, um pouco de riso. Um leve incômodo vira uma pausa inesperada. A pausa vira reflexão. E a reflexão, inevitavelmente, lembra que a viagem é mesmo muito curta.

No meio disso tudo, há até certa beleza. Ser forçado a desacelerar não é punição, é convite. A vida, que antes parecia exigir urgência para acontecer, revela-se também no quase-nada, no pequeno desconforto que ensina a olhar em volta.

Porque, no fim das contas, talvez seja isso – às vezes, o universo quebra um dedo só para nos lembrar que tudo passa. Devagar, sim. Mas passa. E que a eternidade pode, sim, caber num intervalo bobo entre uma ferida no pé e o passo seguinte. E quando os pés afundarem no barro, é só a vida lembrando que caminhar é preciso.

Dança Sagrada

Em campo aberto, o sol se inclina em direção ao horizonte. Somos convidados a testemunhar a grandiosidade e a profundidade do quadro, onde o calor palpável e a quietude serena permeiam o ar. Testemunhamos um espetáculo sublime. O céu se incendeia em tons ardentes, pintando o firmamento com uma paleta de cores vibrantes.

Envolvido pela magia do momento, pela calidez do sol e tranquilidade do campo aberto, deixei me ser elevado aos últimos raios de luz. Abraçado em comunhão com aquele espetáculo da natureza, por um instante, presente, sem repressão das emoções, no entendimento copioso da combinação dos sentimentos de gratidão e paz.

É uma dança sagrada entre o céu e a terra, entre o afrontamento do sol e a brandura da lua iminente. Cada pôr do sol é uma lição gentil de que, assim como o dia acomoda-se para dar lugar à noite, os ciclos se renovam em constante evolução, muitas vezes não percebido, na lembrança da efemeridade da vida e da eternidade do espírito.