Terra Firme – Navegar é Preciso

” O sol abraçou o amanhecer e fui remar naquele oceano imenso. Navegava em água mansa de céu azul-fino. Tentava fitar as últimas estrelas da manhã. Remava na medida do meu tempo e pensamentos.

O mar inundou as margens. O mangue desvaneceu. 

Percebi que navegava em direção a grande montanha. Estava sendo engolido pela mata. As ilhotas ficaram na retaguarda e as margens cada vez mais estreitas. A natureza trasbordava e gritava com seus encantos em todos os cantos. 

Navegava em oceano antigo. 

Cansado de remar percebi como a montanha se agigantou. Fiquei aos seus pés. Contemplei sua grandeza em silêncio. Sem precisar do tempo entendi que era hora de retornar.

Naquele momento um boto emergiu do nada.

Após o susto, foi divertido ele nadar ao lado. Então notei a montanha tão distante. Onde foi parar aquela grandeza? Por um instante fiquei pensativo, à deriva. 

Exausto, reuni forças para terminar o percurso e voltar a terra firme. “

Canoa Caiçara – Parati Mirim

Canoa caiçara, lá estava ela, solitária naquela imensidão de floresta, mangue e mar.

O pescador e mestre caiçara tinha acabado de ancorar sua canoa azul, vermelha e branca. 

O mestre caiçara havia comentado como foi esculpido artesanalmente, a partir de um tronco de árvore, aquela bela canoa.

O caiçara demonstrava sabedoria e respeito a natureza, pela transformação da árvore em uma canoa.

Lá vem Ele – O Barco

Ancorado em águas tranquilas ele se recupera da jornada em mar aberto, dos dias e noites agitadas em águas turbulentas.

No trabalho duro e na esperança voltam carregado com pescado de qualidade, para seguir navegando e garantir o sustento da família.

Enquanto isso a canoa caiçara desliza suave na força da remada. A passeio ou trabalho, o encanto se faz quando ela aparece nas estórias dos pescadores.

E no vai e vem frenético das embarcações, o ronco dos motores espanta o som da natureza, e reforça o meio de transporte mais comum por estas águas.

Mas o bom mesmo é ficar lado a lado, até parece prosa de velhos amigos, em águas calmas, para contar aquelas estórias de pescador.

Canoa de Voga – Parque Estadual de Ilhabela

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A canoa de voga é esculpida a partir de um único tronco de árvore do guapuruvu, cedro ou jequitibá, e chegava a ter 20 m de comprimento por 2 m de largura. O conhecimento da construção foi transmitido oralmente pelos nativos que habitaram a região.

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Ainda hoje vemos nas comunidades caiçaras a canoa de voga como meio de locomoção. No início era canoa a remo, então se acrescentou a vela dando origem ao nome, e depois adaptada para motor.

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No período colonial a canoa de voga foi muito utilizada para transporte de material para construção dos engenhos e fazendas, como também, transporte de açúcar, café e aguardente para as embarcações da época.

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Para Santos e Rio de Janeiro, transportavam tabaco, aguardente e uma infinidade de frutas, hortaliças, aves, ovos, cabritos, esteiras, objetos de barro, além é claro, de passageiros. Retornavam com arroz, feijão e carne. Ainda hoje são usadas para pesca e transporte de pessoas e produtos.

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A canoa de voga resiste aos tempos modernos de embarcações a motor, construída em fibra ou alumínio, onde o rigor da legislação ambiental proíbe o corte de árvores e a constatação da falta dos antigos mestres canoeiros.

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A canoa de voga é símbolo da relação de harmonia do caiçara com a natureza. Da mata que provê água doce, alimento e madeira como recurso para o caiçara adentrar ao mar em busca do pescado e se locomover entre as praias, ilhas e continente.

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Existem várias comunidades tradicionais caiçaras tanto no interior como no entorno do Parque Estadual de Ilhabela. Algumas comunidades estão no Saco do Sombrio, Bonete, Castelhanos, ilhas da Vitória e dos Búzios.

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Então nas trilhas pudemos ouvir histórias fantásticas de viagens, contadas através de gerações, das lembranças dos caiçaras, que marcam o ritmo da remada, esperam o melhor vento ou trançam a rede no Canto do Nema.