“É muito melhor cair das nuvens que de um terceiro andar!”
Machado de Assis
Adaptação de trecho do livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”
Em meio ao avanço digital que molda nossos dias, há lugares que parecem ter sido poupados pela pressa do tempo. A Enseada da Cajaíba e Ponta da Joatinga, no litoral sul do Rio de Janeiro, é um deles. Ali, a vida ainda acontece com os pés descalços na areia, os olhos atentos ao mar e as mãos ocupadas com o que é real. É um mundo sem notificações, onde a infância corre solta entre ondas calmas e partidas de futebol improvisadas. Um cotidiano simples, mas cheio de presença – onde o analógico não é nostalgia, é vida.

Entre uma encosta e outra, deixei-me perder, no melhor dos sentidos, entre praias que apareciam e desapareciam a cada passo. O sol, alto no céu azul profundo, tingia de laranja a areia ainda molhada, enquanto ondas mansas deslizavam suavemente pelas curvas daquela enseada salpicada de embarcações de pesca.
Nas margens, pequenas comunidades se revelavam – casas caiçaras simples, algumas de veraneio, outras abrigando pequenos comércios locais. Mas o que mais chamou a atenção foram as crianças – em bandos, correndo para jogar uma pelada na praia ou se atirando nas ondas tranquilas. No píer de madeira, brincavam na beirada como se o risco não existisse, mergulhando no mar abrigado e voltando à superfície para mais um salto, mais uma gargalhada.
Era impressionante ver crianças de cinco, seis anos nadando com maestria e alegria, nenhuma com um celular nas mãos. Apenas vozes, gritos e risadas enchendo o ar – entre um “tibum” e outro – criando uma atmosfera leve, viva, cheia de liberdade.
E os adultos? Alguns ocupados com redes e barcos, preparando-se para o trabalho no mar. As mães, de dentro das casas, observavam tudo com um olho na panela e o outro na janela – aquele cuidado silencioso e atento.

Era esse o cotidiano na Enseada da Cajaíba e Ponta da Joatinga – uma vida simples, vibrante e simplesmente humana.